sexta-feira, 17 de junho de 2016

Sermão - IV domingo depois de Pentecostes - 12/06/2016

Por: Padre Matthieu Raffray - Superior do distrito da América Latina - IBP

“Daqui em diante sereis pescadores de homens”

Estas palavras que Jesus Cristo dirige aos seus Apóstolos depois da pesca milagrosa, são também, é claro, dirigidas a nós. Desde o dia do nosso batismo, quando recebemos o nome de “Cristão”, nós também recebemos a missão, como discípulos de Jesus Cristo, de expandir, continuar, difundir a obra de Jesus Cristo pelo mundo. Deus se dignou servir-se da natureza humana na Encarnação, escolhendo um corpo em lugar e tempo determinado para viver entre os homens; da mesma forma Ele se dignou servir-se de homens pecadores, servir-se de cada um de nós, com os nossos defeitos, nossas fraquezas e mesmo nossas faltas, para continuar a sua obra, hoje, aqui e agora, em meio aos homens. Que grande responsabilidade! Mas também que honra para nós estarmos assim a serviço do Rei do Universo, de Deus todo-poderoso, para uma obra tão grande quanto a salvação dos homens, a salvação do mundo! Assim como nosso Senhor deu sua vida para salvar os homens, nós também queremos nos colocar a seu serviço, dar nossa vida por esta obra tão grande, a única que vale a pena para a eternidade! Desta forma, na hora da nossa morte, nós queremos, sim, ouvir Nosso Senhor Jesus Cristo nos defender diante de seu Pai no momento do nosso julgamento, queremos ouvi-lo nos associar à sua obra da salvação, segundo a sua promessa: “Todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos céus” (Mt 10, 32)
Agora, como tornar-se, segundo estas palavras de Cristo, “pescadores de homens”? Trata-se de imitar o grande número de protestantes sectários que saem nas ruas e praças, e pretendem “pregar”, mas finalmente não fazem nada senão ridicularizar o nome de Jesus deformando sua santa doutrina? Trata-se de procurar transformar nossa fé católica em algo atrativo, como fazem outros, esvaziando ela de seu conteúdo, tornando-a banal e sem sabor; ou pior, transformando-a até poder ser aceita por todos, profanando assim a santidade do ensinamento de Cristo, até o absurdo e o escândalo; ou ainda pior, como vemos muitas vezes pelo mundo, transformando nossa santa liturgia numa sorte de espetáculo ou de reunião humanista, o que ela não é, profanando a santidade do culto católico, pretendendo mais uma vez torná-la mais aceitável ao mundo?
Não! Ser “pescadores de homens”, como Nosso Senhor nos ordena no evangelho, é, pelo contrário, ser fiel, em primeiro lugar, aos ensinamentos de Cristo, ao magistério intemporal da igreja, à pureza da nossa fé, sem compromisso com o mundo, sem covardia, sem medo, mesmo diante da ousadia dos inimigos da igreja. Converter as almas a Cristo é, antes de mais nada, mostrar a elas a beleza, a perfeição da nossa fé católica, a grandeza e a excelência da obra que Jesus veio realizar no mundo, a obra da salvação. Aquele que deforma essa doutrina querendo torná-la mais aceitável faz o inverso, afastando as almas do Bom Pastor: ele é o mercenário da parábola que afasta as ovelhas do redil de Nosso Senhor. A fidelidade à doutrina católica é, portanto, a condição essencial de todo verdadeiro apostolado, não somente dos padres, cuja primeira função é ensinar os homens, fielmente, o que nosso senhor veio nos revelar, sem o deformar, desfigurar, ou querer tirar proveito disso - mas é também a condição para os leigos, de todo verdadeiro apostolado que queira ser frutuoso, tanto na formação de famílias católicas, na educação cristã dos filhos, quanto em toda obra, social ou política, verdadeiramente cristã : para levar as almas a Jesus Cristo, é preciso confiar nele, qualquer que seja o preço, é preciso aceitar humildemente o ensinamento da Igreja, aprender a conhecer e amar a doutrina católica, para poder defendê-la sem tropeço, até o martírio, se for preciso.
Pois é verdade, caros fiéis, os inimigos da Fé são cada vez mais ameaçadores, sob diferentes aspectos: como dizia a pouco tempo o Cardeal Sarah, em Roma, dois perigos imensos nos ameaçam como duas “bestas do Apocalipse”: de um lado, a idolatria da falsa liberdade moderna e de outro, o fundamentalismo islâmico : a tirania do laicismo ateu contra o fanatismo de uma falsa religião. Entre esses dois monstros devastadores, é hora de ter coragem, é hora da fidelidade a Jesus Cristo e da e da generosidade com a Igreja.
O apreço pela liturgia tradicional, em particular, deve ser em nós sinal dessa fidelidade a Cristo. Não é uma questão estética, histórica ou uma questão de sensibilidade pessoal. Nossa adesão à liturgia tridentina deve ser fundada sobre este desejo de levar as almas a Jesus Cristo e assim de participar à obra de Cristo que leva todos os homens ao céu. Sim : não há nada mais apostólico, mais evangélico que a liturgia secular da Igreja, pois quem quer que seja, por mais afastado que esteja da fé e da Igreja, aí encontra o sagrado, o divino, pode vir e haurir a beleza e a magnificência do espírito cristão.
Assistindo a renovação do sacrifício de Cristo, nós aprendemos, aos pés do altar, aos Pés da Cruz, o sentido do sacrifício, do dom de si, aprendemos que Deus morreu por nós e que nós somos, portanto, vencedores com ele do mal, do pecado e da morte. É pelo sacrifício da missa que nós podemos nos transformar interiormente, e assim transformar o mundo : a santidade, o bem, a paz, todas as virtudes cristãs da castidade, humildade e generosidade, todas as virtudes individuais e sociais se aprendem assistindo a Santa Missa. Eis porque nós amamos esta missa e sua celebração intemporal : porque é assim que os séculos de fé na Europa construíram a Cristandade! E porque ainda é assim, e somente assim, que será reconstruída, na velha Europa que negou sua fé e no Novo Mundo, a Cristandade!
Caros fiéis, vocês são os “pescadores de homens” hoje, aqui em Belém! Tantas almas se perdem por toda eternidade “porque ninguém prega a elas”... é urgente lançar as redes na água mesmo que tudo pareça perdido, que tudo pareça inútil e vão, porque os obstáculos são numerosos, como para os Apóstolos que não pegaram nenhum peixe durante toda a noite. Obedecendo a Jesus Cristo, à sua Igreja, lançando as redes da doutrina, da Fé, da Santa liturgia, nós veremos novamente o milagre da pesca milagrosa. É assim que nós seremos fiéis discípulos de Jesus Cristo, pescadores de homens como os Apóstolos, e é assim que participando da obra de Nosso Senhor nós ouviremos dele, um dia, essa frase tão consoladora : “Vinde, servo bom e fiel, entra no Reino do teu mestre”!
Que Nossa Senhora de Nazaré, padroeira de Belém, os proteja, proteja suas famílias, seus trabalhos, e que os faça frutificar para maior Glória de seu divino Filho,

Em nome do pai, e do filho, e do Espírito Santo. Amém.

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