Por: Padre Matthieu Raffray - Superior do distrito da América Latina - IBP
“Daqui em diante sereis pescadores de homens”
Estas
palavras que Jesus Cristo dirige aos seus Apóstolos depois da pesca milagrosa,
são também, é claro, dirigidas a nós. Desde o dia do nosso batismo, quando
recebemos o nome de “Cristão”, nós também recebemos a missão, como discípulos
de Jesus Cristo, de expandir, continuar, difundir a obra de Jesus Cristo pelo
mundo. Deus se dignou servir-se da natureza humana na Encarnação, escolhendo um
corpo em lugar e tempo determinado para viver entre os homens; da mesma forma
Ele se dignou servir-se de homens pecadores, servir-se de cada um de nós, com
os nossos defeitos, nossas fraquezas e mesmo nossas faltas, para continuar a
sua obra, hoje, aqui e agora, em meio aos homens. Que grande responsabilidade!
Mas também que honra para nós estarmos assim a serviço do Rei do Universo, de
Deus todo-poderoso, para uma obra tão grande quanto a salvação dos homens, a
salvação do mundo! Assim como nosso Senhor deu sua vida para salvar os homens,
nós também queremos nos colocar a seu serviço, dar nossa vida por esta obra tão
grande, a única que vale a pena para a eternidade! Desta forma, na hora da
nossa morte, nós queremos, sim, ouvir Nosso Senhor Jesus Cristo nos defender
diante de seu Pai no momento do nosso julgamento, queremos ouvi-lo nos associar
à sua obra da salvação, segundo a sua promessa: “Todo aquele que me confessar
diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos céus”
(Mt 10, 32)
Agora, como
tornar-se, segundo estas palavras de Cristo, “pescadores de homens”? Trata-se
de imitar o grande número de protestantes sectários que saem nas ruas e praças,
e pretendem “pregar”, mas finalmente não fazem nada senão ridicularizar o nome
de Jesus deformando sua santa doutrina? Trata-se de procurar transformar nossa
fé católica em algo atrativo, como fazem outros, esvaziando ela de seu conteúdo,
tornando-a banal e sem sabor; ou pior, transformando-a até poder ser aceita por
todos, profanando assim a santidade do ensinamento de Cristo, até o absurdo e o
escândalo; ou ainda pior, como vemos muitas vezes pelo mundo, transformando
nossa santa liturgia numa sorte de espetáculo ou de reunião humanista, o que
ela não é, profanando a santidade do culto católico, pretendendo mais uma vez
torná-la mais aceitável ao mundo?
Não! Ser “pescadores
de homens”, como Nosso Senhor nos ordena no evangelho, é, pelo contrário, ser
fiel, em primeiro lugar, aos ensinamentos de Cristo, ao magistério intemporal
da igreja, à pureza da nossa fé, sem compromisso com o mundo, sem covardia, sem
medo, mesmo diante da ousadia dos inimigos da igreja. Converter as almas a Cristo
é, antes de mais nada, mostrar a elas a beleza, a perfeição da nossa fé
católica, a grandeza e a excelência da obra que Jesus veio realizar no mundo, a
obra da salvação. Aquele que deforma essa doutrina querendo torná-la mais
aceitável faz o inverso, afastando as almas do Bom Pastor: ele é o mercenário
da parábola que afasta as ovelhas do redil de Nosso Senhor. A fidelidade à
doutrina católica é, portanto, a condição essencial de todo verdadeiro
apostolado, não somente dos padres, cuja primeira função é ensinar os homens,
fielmente, o que nosso senhor veio nos revelar, sem o deformar, desfigurar, ou
querer tirar proveito disso - mas é também a condição para os leigos, de todo
verdadeiro apostolado que queira ser frutuoso, tanto na formação de famílias
católicas, na educação cristã dos filhos, quanto em toda obra, social ou
política, verdadeiramente cristã : para levar as almas a Jesus Cristo, é
preciso confiar nele, qualquer que seja o preço, é preciso aceitar humildemente
o ensinamento da Igreja, aprender a conhecer e amar a doutrina católica, para
poder defendê-la sem tropeço, até o martírio, se for preciso.
Pois é
verdade, caros fiéis, os inimigos da Fé são cada vez mais ameaçadores, sob
diferentes aspectos: como dizia a pouco tempo o Cardeal Sarah, em Roma, dois
perigos imensos nos ameaçam como duas “bestas do Apocalipse”: de um lado, a
idolatria da falsa liberdade moderna e de outro, o fundamentalismo islâmico : a
tirania do laicismo ateu contra o fanatismo de uma falsa religião. Entre esses
dois monstros devastadores, é hora de ter coragem, é hora da fidelidade a Jesus
Cristo e da e da generosidade com a Igreja.
O apreço
pela liturgia tradicional, em particular, deve ser em nós sinal dessa
fidelidade a Cristo. Não é uma questão estética, histórica ou uma questão de
sensibilidade pessoal. Nossa adesão à liturgia tridentina deve ser fundada sobre
este desejo de levar as almas a Jesus Cristo e assim de participar à obra de
Cristo que leva todos os homens ao céu. Sim : não há nada mais apostólico, mais
evangélico que a liturgia secular da Igreja, pois quem quer que seja, por mais
afastado que esteja da fé e da Igreja, aí encontra o sagrado, o divino, pode
vir e haurir a beleza e a magnificência do espírito cristão.
Assistindo
a renovação do sacrifício de Cristo, nós aprendemos, aos pés do altar, aos Pés
da Cruz, o sentido do sacrifício, do dom de si, aprendemos que Deus morreu por
nós e que nós somos, portanto, vencedores com ele do mal, do pecado e da morte.
É pelo sacrifício da missa que nós podemos nos transformar interiormente, e
assim transformar o mundo : a santidade, o bem, a paz, todas as virtudes
cristãs da castidade, humildade e generosidade, todas as virtudes individuais e
sociais se aprendem assistindo a Santa Missa. Eis porque nós amamos esta missa
e sua celebração intemporal : porque é assim que os séculos de fé na Europa
construíram a Cristandade! E porque ainda é assim, e somente assim, que será
reconstruída, na velha Europa que negou sua fé e no Novo Mundo, a Cristandade!
Caros
fiéis, vocês são os “pescadores de homens” hoje, aqui em Belém! Tantas almas se
perdem por toda eternidade “porque ninguém prega a elas”... é urgente lançar as
redes na água mesmo que tudo pareça perdido, que tudo pareça inútil e vão,
porque os obstáculos são numerosos, como para os Apóstolos que não pegaram
nenhum peixe durante toda a noite. Obedecendo a Jesus Cristo, à sua Igreja, lançando
as redes da doutrina, da Fé, da Santa liturgia, nós veremos novamente o milagre
da pesca milagrosa. É assim que nós seremos fiéis discípulos de Jesus Cristo,
pescadores de homens como os Apóstolos, e é assim que participando da obra de
Nosso Senhor nós ouviremos dele, um dia, essa frase tão consoladora : “Vinde,
servo bom e fiel, entra no Reino do teu mestre”!
Que Nossa
Senhora de Nazaré, padroeira de Belém, os proteja, proteja suas famílias, seus
trabalhos, e que os faça frutificar para maior Glória de seu divino Filho,
Em nome do
pai, e do filho, e do Espírito Santo. Amém.
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