Quando em 1626 o desbravador Pedro Teixeira adentrou o Rio Amazonas, estava acompanhado do frade franciscano Frei Cristóvão de São José, que fazia parte da tripulação da barca que chegou a Belém para a fundação da cidade, em 1616. Os seguidores de S. Francisco eram chamados de “capuchos” e advinham das Províncias portuguesas de Santo Antonio, Piedade e Conceição.
A partir daí, algumas missões religiosas ficariam sob o comando da ordem franciscana, entre os anos de 1693 e 1757, dando origem a várias prelazias. No ano de 1891 houve um processo de reestruturação da presença franciscana no Brasil, capitaneado pelo frade alemão Frei Amando Balhmann.
Para dar apoio aos frades, foi fundada uma casa em Belém no dia 17 de julho de 1917, que a partir do ano 1956 passaria a contar com a ajuda de frades vindos dos Estados Unidos da América. O primeiro a "receber uma obediência para ir a Belém" foi frei Jude Tadeu Prost, ofm. A Custódia Franciscana São Benedito da Amazônia, seria fundada em Belém por ele, em 1957 e estava pronta para receber frades franciscanos em missão na Amazônia.
Do frio estado americano de Nebraska, nascido na pequena cidade de Humphrey no ano de 1928, viria para o Brasil um humilde e piedoso franciscano desejoso de salvar almas. Seu nome era Bernard Louis, o caçula de uma família de 11 filhos, onde todos serviram a Deus: foram 05 padres e 06 freiras: Lucy, Philip, Rita, Norberta, Catherine, Adelaide, Joseph, George, Frank e Dorothy. A pequena Gladys faleceu poucos dias depois de nascer.
Aluno extremamente inteligente, autodidata, poliglota e disciplinado, Bernard seria ordenado como Frade Franciscano em 24/06/1955, passando a se chamar Frei Nestor Bernard Windolph. Seu ímpeto missionário o levou a aceitar o desafio de vir para terras distantes, onde se falava uma língua que não estava entre as 06 outras que falava. Em 1956, Frei Nestor chega ao Brasil a bordo do Navio Montmaclark, que por sinal, teve seu radar consertado em alto mar pelo prestativo sacerdote que também era mestre autodidata em eletrônica.
Depois de um curto tempo no Seminário de Petrópolis, onde pode se familiarizar com a língua, Frei Nestor veio a Belém. Foi recebido por Frei Vianney na Casa Paroquial dos Franciscanos, na Praça Batista Campos, mas seguiu sua missão para a Vila de Boim, pequeno distrito de Santarém, localizado na margem esquerda do Rio Tapajós. Algum tempo depois, foi trabalhar em Santarém, dando aulas no Colégio Dom Amando e no Colégio Santa Clara, onde atuava como Capelão. Ajudou a instalar a primeira rádio da cidade, a Rádio Rural de Santarém. Era comum ver o Frei lá no alto da torre, testando os equipamentos.
A partir do ano de 1967, Frei Nestor passou a residir em Belém. Continuou a dar aulas, tornou-se Juiz do Tribunal Eclesiástico, atendia confissões na Igreja do Perpétuo Socorro, celebrava fielmente as Santas Missas dominicais das 17h00, na Capelinha de Santo Antônio de Lisboa e por mais de 30 anos serviu o Hospital da Beneficente Portuguesa como Capelão. Sua vida consistia em servir ao próximo e levar Deus a todas as criaturas.
Após a publicação do Motu Proprio Summorum Pontificum, do Papa Bento XVI, Frei Nestor deu início a um pequeno e humilde apostolado em favor da Missa em Latim, conhecida como Missa Tridentina. O pequeno grupo se resumia a um padre, um acólito e uma fiel, que se reuniam semanalmente para estudar e aprender sobre este grande tesouro da Igreja Católica, até então restrito a poucos Institutos. As dificuldades foram muitas, mas com humildade franciscana, foram sendo contornadas.
A primeira Missa em Belém e no Norte do país, no Rito Romano Tradicional, após o Concílio Vaticano II, foi celebrada por Frei Nestor, no dia 02/11/2008, na Capela do Colégio Santa Rosa. Preocupado com sua saúde debilitada, Frei Nestor incumbiu o grupo de conseguir um padre novo que pudesse dar continuidade ao trabalho que iniciou. Em breve, se uniria aos fiéis o Padre Carlos Augusto da Silva, e depois Padre Wiremberg José, Padre Bruno, Padre Tomás Maria de Jesus, Padre Dalvan, Padre João Paulo Dantas e, mais recentemente os Padre do Instituto Bom Pastor, da França: Padre Tomás Parra e Padre José Zucchi.
Este foi seu último grande trabalho, que cuidou e acompanhou até quando as pernas começaram a falhar e seu grande coração começou a trabalhar mais devagar. Preso a uma cama, passou seus últimos tempos, recolhido em seu quarto, orando, atendendo visita de poucos e bons amigos, recebendo os Sacramentos e com o sentimento que Deus não tardaria a vir lhe chamar.
Certa vez, quando ainda estava bem de saúde, depois de sua viagem a São Paulo para a ver o Papa Bento XVI e assistir a Canonização de Frei Galvão, eu o questionei: "-Frei Nestor, que tal fazermos uma viagem para rever suas irmãs nos Estados Unidos?". As irmãs Lucy e Therese ainda estavam vivas, na época. E ele, com rapidez e simplicidade respondeu: -"Não precisa seu João. Nós já temos um encontro marcado no Céu!". No dia 29/07/16, Frei Nestor Bernard Windolph, partiu santamente para este encontro. O encontro de um santo.
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