quarta-feira, 30 de março de 2016

Cardeal Müller: "relação com Cristo sem conversão pessoal é impossível"


No livro "Informe sobre la esperanza. Diálogo con el cardenal Gerhard Ludwig Müller", publicado pela BAC, recorda que a Igreja sempre disse o que é verdadeiro e o que é falso, e critica os que usam frases soltas e fora de contexto do Papa Francisco para atentar contra a moral sexual católica.

(InfoCatólica) O Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé afirma que "justamente aqueles que até então não haviam mostrado nenhum respeito pela doutrina da Igreja, agora se utilizam de uma frase solta do Santo Padre - 'quem sou eu para julgar?' - tirada de contexto, para apresentar idéias incorretas acerca da moral sexual, sob uma pretensa interpretação do 'autêntico' pensamento do Papa sobre a questão".



E acrescenta: "A questão homossexual que originou a pergunta realizada ao Santo Padre aparece já na Bíblia, tanto no Antigo Testamento (cf. Gn 19; Dt 23,18s; Lev 18,22; 20,13; Sab 13-15), como nas cartas Paulinas (cf. Rom 1,26s; 1 Cor 6,9s), tratada como um assunto teológico (com todos as determinações próprias que a historicidade da Revelação carrega)".

"Da Sagrada Escritura", explica o Cardeal alemão, "se extrai a desordem intrínseca dos atos homossexuais, por não partirem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Trata-se de uma questão bastante complexa, pelas várias implicações que surgiram com força nos últimos anos. Em todo o caso, a concepção antropológica derivada da Bíblia comporta exigências morais inevitáveis e, por sua vez, um cuidadoso respeito pela pessoa homossexual. Tal pessoa, chamada à castidade e à perfeição cristã através do autodomínio e, às vezes, de uma amizade desinteressada, vive 'uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta' (Catecismo da Igreja Católica, n.2357-2359)".

"Entretanto", assinala o purpurado, "além do problema suscitado com a descontextualização da referida frase do Papa Francisco, pronunciada como um gesto de respeito à dignidade da pessoa, me parece evidente que a Igreja, com seu Magistério, está habilitada para julgar a moralidade de determinadas situações. Essa é uma verdade indiscutível: Deus é o único juiz que nos julgará no fim dos tempos e o Papa e os bispos possuem a obrigação de apresentar os critérios revelados para este Juízo que agora já se antecipa em nossa consciência moral".

Interpretación subjetiva

O Prefeito da Doutrina da Fé relembra que "a Igreja sempre disse: 'isto é verdadeiro, isto é falso' e ninguém pode interpretar de modo subjetivista os Mandamentos de Deus, as bem-aventuranças, os Concílios, segundo seus critérios pessoais, seu interesse, ou mesmo segundo suas necessidades, como se Deus fosse somente uma voz interior de sua consciência. A relação entre consciência pessoal e Deus é concreta e real, iluminada pelo Magistério da Igreja; a Igreja goza do direito e da obrigação de declarar que uma doutrina pe falsa, justamente porque essa doutrina desvia as pessoas do caminho que vai a Deus".

A relação com Cristo sem conversão pessoal é impossível

O Cardeal Müller indica um fato histórico: "Desde a Revolução Francesa, os sucessivos regimes liberais e os sistemas totalitários do século XX, o objeto dos principais ataques foram sempre a concepção cristã da existência humana e de seu destino. Quando não se pôde vencer sua resistência, permitiu-se a manutenção de alguns de seus elementos, mas não do cristianismo em si, razão pela qual deixou de ser a medida de toda a realidade e foram favorecidas as citadas posições subjetivistas. Estas se originam numa nova antropologia relativista anticristã que prescinde do conceito de verdade: p homem de hoje se vê obrigado a viver permanentemente na dúvida. Mais ainda: a afirmação de que a Igreja não pode julgar situações pessoais reside numa falsa soteriologia, i.e., que o homem é seu próprio salvador e redentor. Ao submeter a antropologia cristã a este reducionismo brutal, a interpretação da realidade daí decorrente só adota aqueles elementos que interessam ou convém ao indivíduo: alguns elementos das parábolas, certos gestos bondosos de Cristo ou aquelas passagens que o apresentam como um simples profeta do social ou um mestre em humanidade. Por outro lado, censura-se o Senhor da história, o Filho de Deus que convida à conversão ou o Filho do Homem que virá para julgar os vivos e os mortos. De fato, este cristianismo simplesmente tolerado esvazia a sua mensagem, esquecendo que a relação com Cristo, sem a conversão pessoal, é impossível".

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