“Ite ad Joseph et, quidquid vobis dixerit, facite”( Ide a José e fazei tudo o que ele vos disser: Gen 41, 55). Mas o que disse São José nas santas escrituras ? O eloquente taciturno não disse senão a obediência, a prontidão e a docilidade para com a Providência Divina. No que concerne as palavras humanas, nada disse, talvez porque pai do Verbo substancial, consubstancial ao Pai, por isso, era melhor que Deus falasse do que ele próprio.
“Jesus é revelado aos apóstolos para que Ele fosse anunciado por todo universo; Ele é revelado a São José para que fosse silenciado e escondido. Os apóstolos são a luz do mundo para fazer que o mundo veja Nosso Senhor. São José é um véu para o cobrir; e sob esse véu misterioso esconde-se a virgindade de Maria e a grandeza do Salvador das almas... Aquele que glorifica os apóstolos pela honra da pregação, glorifica São José pela humildade do silêncio” (Bossuet – Panégeryque de Saint Joseph).
Que glória para nós pronunciar diante do Santíssimo Sacramento: “Meu Senhor e meu Deus!”, que glória para São José falar ao Verbo de Deus feito homem: “Meu Senhor, meu Deus e meu Filho!”. Todo pai humano ama mais o filho do seu próprio sangue, o Glorioso São José amava o seu Filho de um amor maior que todo amor paterno humano exatamente porque não era filho do seu sangue, porque não poderia o Filho de Deus ter, segundo a natureza, senão Um Pai, pai virginal, eis o grande título de São José, o fato de não ter participado da geração do seu Filho é que lhe possibilitou ser pai do Filho de Deus, pai de um Filho de natureza divina, pai terreno do Filho do Pai celestial.
Pai virginal, que mistério insondável! Em certo aspecto ainda mais misterioso que a Maternidade Divina porque a Mãe de Deus gerou permanecendo virgem, mas como pode um pai permanecendo virgem não gerar, e ainda sim tornar-se mais pai do que todos os pais humanos ? Não um pai de um filho adotivo, estranho ao casamento, pois que o casamento da Santíssima Virgem com o seu Castíssimo esposo foi desde toda eternidade querido por Deus como condição para a Encarnação de Deus Filho, ou seja, o Filho não pode ser estranho a um casamento que se realizou sobretudo para esse Filho. E, ainda, quando a presença desse filho no seio da Virgem Puríssima foi conhecida por São José, ele o amou desde o começo porque o via como filho do seu casamento, portanto, seu filho, ainda que não conhecesse perfeitamente como se deu a sua geração, mas sabia que não poderia ser fruto do pecado e sim fruto das mais belas virtudes porque filho da Rainha das virtudes, só uma obra divina poderia estar nas origens de tão sublime geração. Desde o princípio ele amou a Mãe, o filho e a beleza do mistério que Deus lhe dava a honra participar. Um pai se torna pai adotivo acidentalmente, mas São José não se tornou acidentalmente pai de Nosso Senhor, desde sempre ele foi predestinado no coração de Deus para assumir tão elevada missão.
Pai do Verbo sem falar, pai do melhor de todos os filhos sem gerar, esposo da Virgem Puríssima sem duvidar e chefe da Sagrada Família porque obedecendo perfeitamente pôde governar.
No seu Tratado sobre a Caridade, São Thomas nos ensina que um pai ama mais o seu filho do que o filho ama o seu pai porque o pai vê o filho como uma obra sua. São José ama mais o seu Filho porque ele próprio é uma obra do seu Filho que é Deus, pai do seu Filho segundo a autoridade e filho do seu Filho segundo o querer da Caridade divina que tudo criou e lhe gerou um coração de pai capaz de amar o melhor de todos os filhos.
Nosso Senhor é mais homem do que qualquer homem, pois que tendo a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade tomado para si a natureza humana, elevou-a a sua perfeição última, sendo mais homem que todos os homens, e sendo filho também segundo a natureza humana, é o melhor de todos os filhos, mais filho do que todos os filhos, assim sendo, São José, pai do melhor de todos os filhos, é mais pai do que qualquer pai, mais pai do que todos os pais. Humanamente falando, pode um excelente filho ter um pai sem nenhum valor, entretanto, não pode o querer divino querer para si senão o melhor de todos os pais, já que é esse querer que produz todas as perfeições, medida incomensurável de todo amor.
Em tudo São José obedeceu perfeitamente o querer divino, as santas escrituras nos dizem que Nosso Senhor em tudo era submisso a seus pais, mas de onde vem essa obediência do Filho de Deus que tudo governa? Um exegeta contemporâneo chamado Philippe Lefebvre ensina um novo significado (Joseph l’éloquence d’un taciturne par Philippe Lefebvre, pg. 143) do verbo grego hupotassein (submeter- se) não muito conhecido hodiernamente: se submeter a alguém em quem encontramos nossas delícias, fazer nosso o querer daquele a quem nos submetemos. Nosso Senhor obedecia São José porque encontrava suas delícias no seu pai terreno, pois que todas as delícias de São José estão em Deus, estão no Filho, São José não tinha outro querer senão o querer de Deus. Para o Salvador do mundo querer o que São José queria era querer o que Ele próprio queria, amar o que São José amava era amar a si mesmo, pois que São José fazia seu todos os amores de Deus.
“O Amor não é amado!” gritava São Francisco pelas ruas de Assis, eis que encontramos quem ama o Amor! Deus juntou todas as águas e chamou-as mar, Deus juntou todas as graças e chamou-as Maria, Deus juntou o Amor de todos amores e Lhe fez uma Mãe, a Mãe do mais belo Amor. Juntai os amores de todos os filhos por uma única mãe, juntai o Amor mesmo de todos os amores e Ele escolheu para Si o Doce Coração de uma Virgem Mãe e um Castíssimo esposo cujo coração esculpido pela graça de Deus corresponde às alturas inacessíveis do Sagrado Coração do Filho e do Doce e Imaculado Coração da Mãe.
Ó glorioso São José, pai virginal do Filho de Deus, esposo Castíssimo da Virgem Puríssima, ensina-nos a amá-los como só vós soubestes amar.
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