segunda-feira, 27 de abril de 2015

Um Salva-vidas de Chumbo














Teologia da Libertação. A Nova Face do Modernismo

Fundada em 1971, para difundir o cristianismo e o marxismo, a teologia da libertação foi condenada pela Igreja. Após a queda do comunismo, se "recicla", assumindo as novas ideologias ambientalistas e LGBT. Hoje parece ter encontrado um novo crédito, mesmo dentro dos muros do Vaticano. Embora Julio Loredo, em seu  livro recentemente dedicado a ela, a defina como "um salva-vidas de chumbo", nesta entrevista, ele explica o porquê.

Leonardo Boff, 76, no Brasil, é um ex-padre franciscano que se "auto reduziu", - como ele escreve em seu blog – ao estado laical antes da intervenção inevitável do Vaticano, que logo chegaria. Boff é um dos "grandes homens" da Teologia da Libertação, que não tem deixado de cultivá-la, embora condenada pela Igreja, até mesmo depois de jogar fora  a batina. Jogado à sua maneira, é claro. Isto é, por sua própria admissão, continuando a "celebrar" batismos, casamentos, sacramentos em geral, embora já não tenha autoridade para isso.

Boff alguns meses atrás voltou às primeiras páginas dos jornais italianos por ter declarado a ANSA [Agenzia Nazionale Stampa Associata], que havia enviado material ao Papa Francisco para sua próxima encíclica, como ele mesmo  havia pedido. Ano passado Boff também disse que tinha escrito, sempre através de seu pedido, para pleitear mais uma vez para a "causa" de um Concílio Vaticano III.

Esta informação é suficiente para entender como a teologia da libertação não está de nenhuma maneira morta. Pelo contrário, os seus "profetas" não perdem a oportunidade de difundi-la em todos os lugares. Mesmo admitindo crédito. 

O falador Boff disse aos jornais acreditar que o Papa Francisco vem do "caldo da Teologia da Libertação latino-americana”, atribuindo-lhe "uma revolução nos hábitos e comportamentos da Igreja ", e recordando a forma como o Papa quis se encontrar com o fundador da Teologia da Libertação, Gustavo Gutiérrez, e seu mais famoso expoente, Arturo Paoli.

Portanto, hoje em dia, da teologia da libertação pode-se e deve-se seguir falando. Pois continua a ser um perigo, um risco, uma tentação presente na Igreja, apesar de tudo.

P -"Roma locuta", mas a causa parece tudo, menos "acabada". Como assim? Pedimos a opinião de Julio Loredo, autor do livro “Teologia da Libertação – Um salva-vidas de chumbo para os pobres”, recentemente lançado pela Cantagalli.

A Teologia da Libertação começou a difundir-se rapidamente em 1971 com a publicação do livro homônimo de Gustavo Gutierrez. Em 1979, durante a Terceira Assembléia Geral da Conferência Episcopal da América Latina-CELAM, realizada no México, o Papa João Paulo II fez várias intervenções que desautorizavam alguns aspectos dessa doutrina.
No entanto, certas passagens que poderiam ser interpretadas de várias maneiras, o silêncio sobre certos aspectos do credo revolucionário e a falta de uma verdadeira condenação provocou  que a mensagem papal deixou de bloquear completamente o seu caminho.
Em 1984, chega a Instrução "Libertatis Nuntius" , assinada pelo cardeal Joseph Ratzinger na qual ele condena, com tons muito fortes, alguns ponto-chaves da Teologia da Libertação, como o uso da análise marxista  e perspectiva temporal historicista da religião e da prática subversiva. Foi então que o futuro Bento XVI definiu o comunismo uma "desgraça do nosso tempo."
Mas dois anos depois, veio a luz a Instrução "Libertatis Conscientia", com um tom muito diferente, tanto como que para enfatizar os aspectos positivos da teologia da libertação. O tempo, no entanto, havia mudado: o colapso do socialismo real, com a Teologia da Libertação estava em simbiose, ele também marcou o fim, pelo menos em sua forma original.
Depois de um quarto de século, surpreendentemente, aqui está ela, solenemente "liberada" (este é o termo usado) pelo próprio Vaticano.
Fala-se de uma "nova primavera", ajudada pela eleição do primeiro papa latino-americano. Gustavo Gutiérrez foi recebido em audiência pelo Papa. Até o Osservatore Romano dedicou à teologia da libertação duas páginas inteiras de elogios. O Encontro Mundial dos movimentos populares, que reuniu as iniciais da esquerda alinhada com a Teologia da Libertação foi realizada no Vaticano. Uma de suas figuras expressivas, Mons. Oscar Romero, teve aprovado o seu processo de beatificação. Tudo isto levanta sérias preocupações, especialmente pelo uso instrumental que a partir disso pode ser feito em apoio a extrema esquerda.

P - Em seu livro, você define a teologia da libertação como um "salva-vida de chumbo para os pobres". Por quê?

Os seus partidários a apresentam como uma teologia "dos pobres para os pobres", querem dizer que é a única a favor deles, "liberando-os" de toda a exploração. Isso é uma mentira. Um estudo, mesmo superficial,  mostra que aonde os seus princípios foram aplicados, o resultado tem sido um aumento dramático na pobreza e nos problemas sociais. Não é portanto, uma opção preferencial pelos pobres mas pela própria pobreza. Por outro lado, falam de "liberdade", mas, na verdade, se alinham com ditaduras, desde que sejam comunistas. Por isso, o teólogo jesuíta Horacio Bojorge cunhou a frase, que eu uso no subtítulo do meu livro, "salva-vida de chumbo." Longe de ajudar os pobres, a teologia da libertação os mergulha. É então uma corrente herética teologicamente e politicamente prejudicial.

P- Em uma época em que a história declarada a derrota do comunismo, como é possível continuar acreditando em uma corrente de pensamento, que propõe "introduzir o marxismo na teologia"?

Eu respondo em dois níveis. Em primeiro lugar, devemos reconhecer com pesar que muitos católicos, incluindo aqui prelados da Cúria, ainda propõem o marxismo como um método válido de análise para satisfazer as necessidades dos pobres. Além disso, como em 1989, antecipando a queda do comunismo, os teólogos da libertação começaram a se livrar dele, substituindo-o por ideologias mais adequadas à nova era revolucionária. Deste esforço nasceu uma infinidade de "novas" teologias da libertação, inseridas dentro da revolução cultural moderna: teologia negra, teologia feminista, teologia gay, teologia ecológica, teologia lésbica e assim por diante. Ou seja, entram em simbiose com novos movimentos revolucionários, como os do lobby LGBT.

P - Quem disse que o comunismo e o Reino de Deus eram essencialmente os mesmos, foi Leonardo Boff, que se declarou muito próximo do Papa ...

O ex-frade franciscano brasileiro Leonardo Boff, um dos fundadores da Teologia da Libertação, tem repetidamente afirmado publicamente seu apoio ao Papa Francisco. Na última ocasião, com o artigo de Vittorio Messori no Corriere della Sera, em que o famoso escritor respeitosamente expressou algumas preocupações sobre o pontificado atual. Já são muitos os teólogos da libertação, que manifestaram disposições semelhantes. E isso me preocupa. Boff, que vive com sua ex-secretária, uma mulher casada com seis filhos, é o promotor da eco-teologia da  libertação de  matriz panteísta. Seria um absurdo que suas ideias encontrassem lugar em uma encíclica papal. Dito isso, Boff tem razão de acreditar que o papa Francisco se encaixe na versão Argentina da Teologia da Libertação, chamada de "populista", e não de marxista, representada pelo mesmo Boff. Esta versão Argentina tem conotações que a diferenciam das outras versões em aspectos não secundários.

P - Em sua opinião, hoje, a teologia da libertação tem algo a oferecer à Igreja?

Vou ser muito franco. Se realmente ver nela algo positivo, talvez fosse sua ênfase em ações concretas, mesmo a ação política, como parte integrante da prática da fé, algo hoje negligenciado por muitos movimentos -excelentes em outros aspectos - que  gostariam de ver os católicos confinados na sacristia ou na vida privada. Pena que a ação proposta pela teologia da libertação, é a antítese da doutrina católica. Inclusive, não há uma contribuição original da teologia da libertação. Era parte do ser católico, até meados do século passado, começou-se a eliminar o caráter militante da Igreja. Passamos da militância para os testemunhos e disto a presença, que, como sabemos, é a véspera da ausência. Podemos nos alegrar em  saber que os maus têm aproveitado esse vazio?

P - A Teologia da Libertação é o problema? Ou é algo orgânico e absorvido pela heresia sectária mais ampla do modernismo?

No meu livro eu mostro como a teologia da libertação é simplesmente a radicalização do modernismo através das versões extremas da chamada “Nouvelle Théologie”. Como antes, o Modernismo foi uma radicalização do catolicismo liberal e democrático. Estamos diante de um processo histórico revolucionário, que envolve consequências cada vez mais extremas a partir de axiomas igualitários e liberais em que se baseiam. Além disso, como admitido pelo mesmo Ernesto Buonaiuti, afinal de contas, o Modernismo manteve-se em um círculo bastante restrito de intelectuais. Os erros modernistas e neo modernistas, no entanto, tem-se difundido na Igreja como resultado de mudanças culturais ocorridas no século XX, contaminando grandes partes da Ação Católica e dos leigos. A análise desses fatores culturais no aumento das heresias de hoje, é um ponto fundamental do meu livro.

P - Você acha que a Teologia da Libertação é um movimento destinado a apagar-se espontaneamente ou acredita que todo católico tem o dever de lutar contra ela?

Esperar que o mau acabe espontaneamente me parece a melhor maneira de deixar o caminho livre e de renunciar  suas promessas batismais. Ademais devemos considerar também que a Teologia da Libertação está inserida em um processo histórico que continua sem que a parte católica levante barreiras significativas. Este silêncio ensurdecedor por parte de não poucas autoridades eclesiásticas contra a terrível revolução que está se realizando, é configurado como talvez o aspecto mais apocalíptico da situação atual.

Mauro Faverzani

Fonte: Radici Cristiane No. 102 - Março de 2015, por Mauro Faverzani


(Tradução JAR)

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