Dom Fernando Arêas Rifan*
A
revista VEJA da Semana da Páscoa (8 de abril) trouxe interessante reportagem
sobre a Ressurreição de Jesus, “o grande dogma do cristianismo”, ressaltando
que a comemoração do domingo de Páscoa reafirma o poder da fé na Ressurreição
do Filho de Deus morto na Cruz, “ideia”, constata a reportagem, “que se
fortalece com a passagem dos milénios”. E pergunta: “por que, depois de pouco
menos de 2000 anos, a crença na ressurreição de Jesus Cristo, um dos mais
extraordinários mistérios da fé, ainda exerce efeito tão arrebatador?” E
constata que, se nada houvesse ocorrido na Páscoa daquele ano, ou seja, se a
Ressurreição do Senhor não fosse um fato extraordinário atestado e comprovado,
não se conseguiria explicar a miraculosa e extraordinária expansão do
cristianismo diante de tantas forças contrárias do paganismo.
Houve
tentativas modernas de se negar a Ressurreição de Jesus como fato histórico.
Segundo algumas dessas teorias, Jesus teria ressuscitado “dentro do Kerigma”,
segundo a fórmula de Rudolf Bultmann, famoso teólogo protestante, ou seja, a
ressurreição significaria apenas que os discípulos haviam reconhecido que “a
causa de Jesus continua”! Por isso, torna-se muito elucidativa para nós a tese
de Heinrich Schlier, discípulo de Bultmann, sobre a Ressurreição de Jesus,
provando o fato histórico, base da fé cristã.
Heinrich
Schelier era pastor luterano, professor de exegese na Alemanha, e, depois, fez
parte da “Igreja confessante”, ou seja, a parte da comunidade evangélica alemã
que tentava salvaguardar a substância cristã do luteranismo, não aceitando que
esse se desintegrasse no movimento que apoiava o nazismo. Depois da guerra,
lecionou Novo Testamento e História da Igreja na Faculdade Teológica Evangélica
de Bonn. Em 1953, para surpresa do seu mestre Bultmann, converteu-se à Igreja
Católica e disse que sua conversão ocorrera de uma forma completamente
protestante, ou seja, a partir de sua relação com a Escritura, segundo nos
conta Ratzinger. Em 24 de outubro de 1953, foi recebido na Igreja Católica. No
dia seguinte, recebe a primeira comunhão e, depois, a confirmação. Tem inúmeras
obras teológicas, especialmente essa sobre a Ressurreição de Jesus, prefaciada
pelo então Cardeal Joseph Ratzinger.
Baseado
na história e na Escritura, Schelier
demonstra que “a Igreja primitiva não falou da ressurreição de Jesus
Cristo com distanciamento e de modo descompromissado, mas com emoção e num ato
de profissão de fé”. E ele argumenta tratar-se de um fato incontestável, embora
conserve seu caráter de mistério. Segundo ele, os textos neotestamentários
entendem a Ressurreição como um evento, um acontecimento histórico concreto. A
Ressurreição não veio da pregação, mas sim a pregação partiu do fato da
Ressurreição. E da sua Ressurreição deriva a conclusão lógica de que Ele é o
Senhor, como se lê no discurso de São Pedro aos judeus: “De fato, Deus
ressuscitou este mesmo Jesus, e disso todos nós somos testemunhas... Portanto,
que todo o povo de Israel reconheça com plena certeza: Deus constituiu Senhor e
Cristo a este Jesus que vós crucificastes” (At 2, 32-36).
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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