terça-feira, 3 de novembro de 2015

Princípios fundamentais de solução para o problema moral da moda


O primeiro é não dar demasiado pouca importância à influência da própria moda, tanto para o bem como para o mal. A linguagem do vestuário como já notamos é tanto mais eficaz quanto mais frequentemente é compreendida por cada um. A sociedade, por assim dizer, fala com a roupa que veste; com a roupa revela suas secretas aspirações e dela se serve, ao menos em parte, para construir ou destruir o próprio futuro. Mas o cristão, seja autor ou cliente, preservar-se-á de fazer pouco caso dos perigos e das ruínas espirituais semeados pelas modas imodestas, especialmente públicas, pela coerência que deve existir entre a doutrina professada e a conduta externa. Lembrar-se-á da elevada pureza que o Redentor exige dos seus discípulos, mesmo nos olhares e pensamentos; e lembrar-se-á também da severidade demonstrada por Deus aos semeadores de escândalos. Pode ser, a propósito, trazida de novo à mente a forte página do profeta Isaías, na qual se vaticina o opróbrio destinado à cidade santa de Sião pela impudicícia de suas filhas (cf. Is 3, 16-24); e outra na qual o sumo Poeta italiano exprimia, com palavras abrasadas, a sua indignação pela impudicícia que grassava na sua cidade (cf. Dante, Purg., 23, 94-108).



O segundo princípio é que a moda deve ser dominada, em vez de abandonada ao capricho e fanaticamente servida. Isto vale para os artífices da moda – criadores de modelos e críticos – cuja consciência exige não se sujeitarem cegamente ao gosto depravado que a sociedade, ou melhor, uma parte dela, nem sempre a mais considerável por sabedoria, pode manifestar. Mas vale também para os indivíduos, cuja dignidade exige que se libertem, com consciência livre e esclarecida, da imposição de determinados gostos, discutíveis especialmente na parte moral. Dominar a moda quer dizer ainda reagir com firmeza contra as correntes contrárias às melhores tradições. O domínio sobre a moda não enfraquece, ao contrário, confirma o dito “a moda não nasce fora e contra a sociedade”, contanto que a esta se atribua, como se deve, consciência e autonomia para dirigir-se a si mesma.

O terceiro princípio, ainda mais concreto, é a respeito da “medida”, ou seja, da moderação em todo o campo da moda. Como os excessos são as causas principais da sua deformação, assim a moderação conservará o seu valor. Deverá ela agir, antes de tudo, sobre os espíritos, regulando a cobiça do luxo, da ambição, do capricho a todo custo. Pelo senso da moderação deixar-se-ão guiar os artífices da moda, especialmente os “criadores”, no desenho da linha ou do talho, e na escolha dos adornos de uma roupa, certos de que a sobriedade é o melhor dote da arte. Bem longe da ideia de querer fazê-los voltar a formas superadas pelo tempo, não raro voltam como novidades da moda – mas só para confirmar o valor perene da sociedade, gostaríamos de convidar os artistas de hoje a se deterem, nas obras-primas da arte clássica, sobre certas figuras femininas de indiscutível valor estético, onde a veste, inspirada pela pudicícia cristã, é digno ornamento da pessoa, com cuja beleza se funde como um único triunfo de admirável dignidade.

Fonte: Alocução do Papa Pio XII ao Congresso da “União Latina de Alta Costura”.

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