quarta-feira, 22 de julho de 2015

O que o aborto tem a ver com o "casamento" gay?

Por Ryan T. Anderson

Na última semana, muitos de nós ficamos indignados ao saber que a Planned Parenthood está coletando e vendendo membros de crianças abortadas. Como a maior realizadora de abortos dos EUA, Planned Parenthood é parte do problema, no campo da "oferta". Mas, como aprendemos, nas leis da economia há dois lados, oferta e procura. O que está por trás da procura por aborto? O principal fator é o colapso da família. E a decisão da Suprema Corte que redefiniu o conceito de casamento está apenas nos levando adiante nesse caminho, colocando cada vez mais nascituros em risco. Afinal, redefinir o casamento redefine a paternidade.

Os melhores protetores de nascituros são uma forte cultura matrimonial e pessoas que levam a sério a virtude da castidade. Mas a nova visão comum de casamento o reduz a um mero contrato e torna mais difícil a promoção de uma cultura da castidade. E, como explico em meu novo livro, sem uma cultura de castidade, nós nunca teremos uma cultura pró-vida.



Na verdade, tanto o movimento abortista quando o movimento pela redefinição do casamento reduzem a
sociedade a uma relação de direitos e deveres apenas com aqueles seres humanos que livremente escolhemos. Considere os slogans: "Meu corpo, minhas regras"; "Eu consenti em fazer sexo, não em engravidar"; "O amor é que faz o casamento"; "O casamento deveria durar enquanto durar o amor". Todos eles refletem a crença de que, havendo consentimento, pessoas adultas deveriam fazer o que quiserem, uma crença que coloca o desejo dos adultos à frente das necessidades das crianças. E o enfraquecimento do casamento leva a uma cultura com mais sexo fora do casamento, mais gravidez indesejada e, infelizmente, mais abortos.

Redefinir o conceito de casamento também aumentará o uso de técnicas de reprodução assistida. O movimento pela redefinição do casamento insiste que "não há diferenças" entre a união entre o marido e a esposa, e a união entre pessoas do mesmo sexo, ainda que estas não possam conceber filhos naturalmente. Para realizar a plena "igualdade", então, será necessário recorrer à tecnologia moderna. Casais homossexuais devem usar técnicas de reprodução assistida - com o auxílio de doadores de esperma, doadores de óvulos, barriga de aluguel etc. - assim poderão "ter seus próprios filhos". Na verdade, cientistas esperam eventualmente eliminar a necessidade dessas ajudas externas. Em março de 2015, a revista Time trouxe uma matéria cujo título era "Prepare-se para Embriões de Dois Homens ou de Duas Mulheres", alardeando a possibilidade de células-tronco criarem óvulos a partir de homens e esperma a partir de mulheres. E, é claro, há esforços para se criar úteros artificiais.

O mau uso da tecnologia deveria nos preocupar. Quanto mais crianças forem concebidas por casais homossexuais através de técnicas de reprodução assistida, mais crianças serão concebidas explicitamente e intencionalmente fora de uma relação entre pai e mãe. Uma sociedade justa faz sacrifícios para garantir que os filhos sejam conhecidos e amados pelos seus próprios pai e mãe, enquanto faz o que pode para ajudar os filhos privados dessa bênção por um infortúnio. Porém, o mau uso da tecnologia inverte as prioridades, aumentando deliberadamente o número de crianças que crescem sem pai nem mãe, e as subordinando ao capricho de adultos.

A preocupação pró-vida aqui, é claro, está no fato de que a indústria da reprodução assistida destrói um enorme número de embriões humanos. Qualquer um que tenha familiaridade com esses procedimentos sabe que eles produzem muito mais embriões do que serão implantados no útero e, dos embriões implantados, apenas alguns sobreviverão.

Adultos devem ter o que querem, incluindo filhos. Se seus filhos não podem ser concebidos por meio de um ato de amor natural, eles devem ser manufaturados. Haverá muito mais crianças mortas do que nascidas, é claro, mas nós decidimos que os caprichos dos adultos têm prioridade.

Dar às pessoas o direito de ter o que querem, mesmo um bebê, parece ser uma expansão da liberdade. Mas não é. Atividades que antes eram proibidas, agora são aceitáveis, protegidas e mesmo favorecidas. A Suprema Corte garantiu a legalização da contracepção e do aborto, p. ex. E agora o governo ordena que outras pessoas o promovam. O "Obamacare" exige dos empregadores que providenciem contraceptivos e abortivos, e o estado da Califórnia e o distrito de Columbia tentam obrigar à cobertura de cirurgias de aborto.

De uma política contraceptiva, estamos passando para uma política "conceptiva", sob a liderança da Califórnia. Todos os planos de saúde no estado são obrigados a cobrir técnicas de reprodução para todas as pessoas, casadas ou solteiras, gays, lésbicas ou heterossexuais. "Os benefícios da medicina reprodutiva são para todos", afirma o autor da lei. "A restrição da cobertura dos tratamentos de fertilidade aos casais heterossexuais viola as leis antidiscriminatórias da  Califórnia. Eu propus esta lei para corrigir isso". A lei não dá espaço para que os patrocinadores dos planos de saúde aleguem objeção de consciência, devido às suas crenças em relação à vida, ao casamento ou à paternidade.

Os filhos devem ser concebidos dentro de um relacionamento que lhes proporcione amor e proteção do homem e da mulher que lhes deu a vida. O nascituro tem direito à vida, sim, mas também merece uma mãe e um pai, e sempre que possível, a mãe e o pai que lhe deu o ser. Graças à fragilidade humana, nem sempre uma criança será criada pela sua família natural, mas este deve ser o ideal que nossa política almeja. E não devemos nunca intencionalmente privá-la dessa criação. Foi exatamente isso que a redefinição do casamento fez. É outra razão pela qual o Juiz Kennedy julgou tão errado este caso.

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