sexta-feira, 3 de julho de 2015

O alvo principal dos jihadistas sempre foi Roma

Por Roberto de Mattei.

Em 26 de junho de 2015, ocorreu a primeira decapitação islâmica em solo europeu, desde a Batalha de Viena (1683), enquanto o "líder" do Ocidente, Barack Obama, comemorava triunfalmente a legalização do "casamento" homossexual, imposta pela Suprema Corte Americana a todos os estados da União.

Há exatamente vinte anos, em 21 de maio de junho de 1995, era inaugurada oficialmente a mesquita de Roma, a maior da Europa, apreentada como centro de diálogo ecumênico e paz religiosa. A única voz de protesto lançada na Itália foi do Centro Cultural Lepanto, que organizou um rosário de reparação na Igreja de São Luiz Gonzaga, contígua à mesquita, e definiu, num comunicado, a construção do centro islâmico no coração da Cidade Eterna, como "um ato de gravidade simbólica inaudita. Roma é o centro da Fé católica: o islã nega as raízes e as verdades fundamentais de nossa fé e se propõe a implantar seu domínio universal no que foi a Cristandade".


Naquela mesma época, entre 1992 e 1995, ocorreu a guerra étnica e religiosa da Bósnia, primeira luta midiática dos tempos modernos, e também a mais mal interpretada pelos meios de comunicação. A versão politicamente correta do conflito apresentava a imagem de um governo predominantemente mçulmano - na realidade, multicultural - assediado por nacionalistas radicais croatas e sérvios decididos a aniquilar os muçulmanos na Bósnia.

A verdade ignorada era que a Bósnia foi a primeira frente da jihad mundial da Al Qaeda, o primeiro sucesso internacional do qual o islã obteve um grande benefício. John R. Schindler, analista americano que percorreu durante quase uma década a zona dos Balcãs, fez uma análise precisa daquela guerra (Unholy Terror: Bosnia, Al-Qa’ida, and the Rise of Global Jihad, Zenith Press, St Paul, Minnesota 2007), que coincide em muitos pontos com o realizado pelo especialista em geopolítica Alexandre del Valle (Guerres contre l’Europe, Edition des Syrtes, Paris 2000).

Nos anos noventa, na Bósnia, a Al Qaeda se transformou na multinacional da jihad,sob o comando de Osama Bin Laden e seus jihadistas. A Arábia Saudita, que custeou a construção da mesquita de Roma com 35 milhões de dólares, contribuiu com centenas de milhões para apoiar os guerrilheiros islâmicos, convocando os jovens muçulmanos de todo o mundo a empreender a guerra santa na Europa.O primeiro ato da Bósnia independente, que permanecia sendo um país de maioria cristã, foi aderir à Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), que reúne 57 países de religião muçulmana com o objetivo de difundir a sharia pelo mundo.

Desde então, estava claro que o islã serguia duas linhas estratégicas: a linha "suave" buscava a islamização da sociedade por meio de uma rede de mesquitas, que constituem um centro de propaganda política e religiosa, como também de recrutamento militar, como a de Milão, na avenida Jenner, que servia de base de operação para reunir homens, dinheiro e armas na Bósnia. Essa estratégia gramsciana de expansão é representada pela Irmandade Muçulmana, fundada em 1928 por Hasan al-Banna, movimento - como recorda Magdi Allam - que "promove a islamização da sociedade desde baixo, apoderando-se das mesquitas, centros culturais islâmicos, escolas corânicas, entidades filantrópicas e organismos financeiros" (Kamikaze made in Europe, Mondadori, Milano 2005, p. 22).

Junto a esta linha estratégica "suave" se situa, sem contrapor-se, a linha "leninista" do islamismo radical, que busca alcançar a hegemonia mundial através da guerra e do terrorismo. Essa linha dura passou, nos últimos anos, da Al Qaeda para o Estado Islâmico, que se estende desde os arredores de Alepo, na Síria, às de Bagdá, no Iraque, e tem como objetivo declarado a restauração do califado universal que, como explicado desde os anos noventa pela principal especialista do islã, Bat Ye'Or, não é sonho apenas dos fundamentalistas, mas a meta de todo verdadeiro muçulmano.

As diversas linhas estratégicas do islã convergem atualmente para um mesmo projeto de conquista mundial. Nu sermão realizado na mesquita de Mossul, em 4 de julho de 2014, durante o ato de fundação do califado jihadista, Abu Bakr al Bagdadí convocou todos os muçulmanos para que se unam à sua causa. Se o fizerem, prometeu que o islã chegará à Roma e dominará o planeta. No vídeo divulgado pelo Estado Islâmico, aparece a bandeira negra do califado tremulando sobre o Vaticano e o Coliseu, com chamas surgindo num mar de sangue. Finalmente, o anúcia do califado líbico ("estamos ao sul de Roma"), enquanto Abu Muhammed al Adnani, porta-voz do Estado Islâmico do Iraque e da Grande Síria, anuncia: "Conquistaremos a vossa Roma, faremos vossas cruzes em pedaços e reduziremos vossas mulheres à escravidão".

O mesmo objetivo é proclamado há mais de dez anos pelo principal porta-voz da Irmandade Muçulmana, o imã Yusuf al Qaradawi, que numa fatwa [pronunciamento legal] promulgada em 27 de fevereiro de 2005, declarou: "Ao final, o islã se apoderará do mundo inteiro e o governará. Entre os sinais de sua vitória estará a conquista de Roma e a ocupação da Europa. Os cristãos serão derrotados, enquanto os muçulmanos se proliferarão e se converterão numa potência que dominará todo o continente europeu"

Yusuf Qaradawi, que depois de ter dirigido a "primavera árabe" egípcia, foi condenado à morte à revelia, pelo tribunal penal de Cairo, e 16 de junho último, é o presidente do Conselho Europeu de Fatwa e Pesquisa, com sede em Dublin , ponto de referência teológico das organizações islâmicas ligadas à Irmandade Muçulmana. Suas idéias, divulgadas pelo canal via satélite Al Jahzeera, influenciam boa parte do islã contemporâneo. Para a Irmandade Muçulmana, assim como para o Estado Islâmico, o objetivo final não é Paris ou Nova Iorque, mas a cidade de Roma, centro da única religião que o islã se propõe a eliminar desde a sua fundação. O verdadeiro inimigo não é os Estados Unidos, nem Israel, que não existiam quando os maometanos chegaram às portas de Viena, em 1683, mas a Igreja Católica e a civilização cristã, da qual a religião de Maomé é uma paródia diabólica.

Hoje, as palavras com as quais São Pio V e o beato Inocêncio XI convocaram a guerra santa e contiveram o avanço do islã em Lepanto e em Viena não ressoam em Roma. E se o Papa Francisco concorda com o primeiro-ministro inglês, David Cameron, segundo o qual os atentados de 26 de junho não foram realizados em nome do isã porque o islã é uma religião de paz, no plano humano, pode se dar a guerra como perdida.

A resposta do ocidente às provocações e gestos bélicos do islã pode ser resumida na hashtag "#LoveWins", com a qual o movimento gay inunda o Twitter e o Facebook. A inversão de valores que expressa esta mensagem está fadada a converter-se no contrário do que afirma: não a vitória, mas a escravidão, como destino de um mundo que renega sua fé e inverte os princípios da ordem natural.

Não obstante, na história nada é irreversível. Valeria a pena espalhar nas redes sociais outra hashtag - uma silenciosa, mas avassaladora palavra de ordem: In Hoc Signo Vinces, o sinal que figurava na bandeira de Constantino, em Saxa Rubra e que contém a história dos séculos futuros, quando os homens estavam à altura da Graça divina. O auxílio do Céu nunca falta quando há homens de boa vontadeque lutam para que a Cruz de Cristo vença e reine nas almas e em toda a sociedade. Ainda há homens assim no Ocidente?

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