quinta-feira, 9 de julho de 2015

Pe. João Paulo Dantas participa da VIII Conferência Litúrgica Internacional de Fota (Irlanda)

Por Gregory Dipippo.

A 5ª Sessão da VIII Conferência Litúrgica Internacional de Fota ocorreu na manhã de segunda-feira, 06 de julho, dirigida pelo Cardeal Pell, tendo como moderador o prof. Manfred Hauke. Dois trabalhos foram apresentados, um pelo Cardeal Burke, e outro pelo pe. Sven Conrad, FSSP.



Card. Burke e Pe. Sven Conrad, FSSP.



A apresentação do Cardeal Burke, intitulada "Questões Canônicas Selecionadas sobre o Sacerdócio Universal dos Batizados", descreveu como a disciplina canônica não oferece nenhuma novidade sobre a questão do sacerdócio universal dos fiéis, mas em vez disso promove a realidade teológica. A disciplina canônica mantém, num aspecto particular, a igual dignidade de todos os batizados e a distinção entre dois estados de vida: o dos leigos, e o dos consagrados e sacerdotes. A distinção entre o estado laical e o estado sacerdotal pertence à estrutura hierárquica da Igreja, estabelecida por Deus. Os consagrados não pertencem à estrutura hierárquica, mas à santidade da Igreja. Os fiéis leigos, sob a atenção dos bispos e padres, são encarregados do apostolado para a santificação da realidade temporal. Os leigos podem exercer o serviço sacerdotal, mas eles não podem substituí-lo. Tal colaboração deve cuidadosamente evitar qualquer confusão acerca do insubstituível serviço dos ordenados. A expressão litúrgica do sacerdócio dos fiéis é acturna participatio, a união do coração ao Sacratíssimo Coração de Jesus. Na implementação das normas do Concílio, uma certa confusão entre o estado laical e o estado sacerdotal surgiu na vida da Igreja, causando graves danos.

O trabalho do pe. Conrad, "Sacerdócio como Expressão do Sacerdócio Comum ou do Ministério Ordenado? Uma Revisão das Ordens Menores" [refere-se ao acolitato, leitorato etc.], começou por expor que o termo "ordo", sempre utilizado para denominar o sacramento em questão e seus graus respectivos, tem um grande impacto filosófico. O termo é importante também para descrever a estrutura social do Império Romano. Ambos os aspectos estão ligados à terminologia própria da Igreja. Pe. Conrad mostrou que a relação característica entre o sacerdócio cristão e a terminologia da antiga estrutura social tende a provar que a liturgia era entendida como "cultus publicus".

Ele, então, resumiu a história das ordens menores, as quaos foram todas mencionadas em uma carta do Papa Cornélio, no ano de 251. O trabalho também abordou as mudanças realizadas pelo Papa Paulo VI e as questões surgidas a partir dessas mudanças.

Ao desenvolver alguns tópicos básicos sobre a teologia das ordens menores, o trabalho remeteu ambos para o significado clássico de sacramentais e para a sua definição presente na Sacrossanctum Concilium (n. 60). Elas são sacramentais, os quais "in aliquam Sacramentorum imitationem" remetem ao sacramento do sacerdócio, não do batismo. Sendo sacramentais, as ordens menores são expressões da intenção da Igreja em certas matérias (p. ex. a luta contra o mal). Portanto, a existência ou não existência das ordens menores está ligada ao poder de culto da Igreja em geral. Reduzir as ordens menores enfraquece o próprio poder de culto da Igreja.
A 6ª sessão da Conferência, ocorrida à tarde, foi presidida pelo Cardeal Burke, tendo o prof. Rodney Lokaj como moderador, iniciou-se com a exposição do prof. Hauke, seguida da apresentação dos trabalhos do Cardeal Pell e do Pe. João Paulo Dantas.

Em seu artigo, chamado "O 'Sensus Fidei' dos Leigos, de acordo com John Henry Newman e a Teologia Contemporânea", prof. Hauke notou que durante a preparação do Sínodo Extraordinário dos Bispos para a Família, algumas vozes se referiram às opiniões majoritárias dos fiéis em certos países como tendo poder para "desenvolver" ou modificar o ensinamento da Igreja. Porém, ele colocou a questão: essas declarações expressam o "sensus fidei" tratado pelo Concílio Vaticano II?




Prof. Hauke

A palestra dialogou com o ensaio do Beato Cardeal Newman "Sobre a Consulta dos Fiéis em Matérias Doutrinais", que foi publicada em 1859. O apelo ao "sensus fidei" apareceu num contexto histórico específico, encorajado pela preparação para a promulgação do dogma da Imaculada Conceição, no qual o Papa Pio IX fez referência aos testemunhos do povo cristão. Newman descreveu os elementos básicos do "sensus fidei". Ao usar o exemplo da luta contra a heresia ariana, no século IV, ele observou que a maioria dos bispos e muitos sínodos episcopais falharam em preservar a Fé, enquanto que os testemunhos dos cristão leigos, guiados por bispos santos, como Santo Atanásio, permanecerão fiéis aos seus votos do batismo.

Santidade é, pois, um elemento indispensável dessa "prova de fidelidade dos leigos". O leigo ressoa o sacerdote em questões de fé, "ainda há algo no 'pastorum et fidelium conspiratio', que não está no pastor solitário".

O recente debate histórico dessa questão mostra a influência negativa de teologias heréticas na controvérsia ariana. De acordo com Newman, os leigos, como a "medida do espírito católico", podem salvar ou destruir a Igreja num país inteiro. Em seu "biglietto speech" [famoso discurso, realizado quando da sua nomeação cardinalícia] (1879), ele profetizou uma "grande apostasia" na cultura ocidental, em que a religião era tratada como um sentimento e não como uma revelação divina. Essa apostasia certamente não representa o "sensus fidei".

Prof. Hauke, então, avaliou a abordagem de Newman relacionando com a atual discussão. O recente documento da Comissão Teológica Internacional sobre o "sensus fidei" (2014) foi examinado em detalhe. A conclusão é a de que o "sensus fidei" não deve ser confundido com opinião pública. Para o discernimento do autêntico "sensus fidei" há certos critérios. O "sensus fidei" é norteado pelo magistério e esclarecido pela teologia fiel [à doutrina]. Ele concluiu sua palestra referindo-se a um discurso do Papa Bento XVI na véspera da beatificação do Cardeal Newman, em que o chamou de "o grande patrocinador do serviço profético dos cristãos leigos".

Cardeal Pell enviou seu artigo "O Vinho e o Altar: Aprender o Ensinamento de São João Paulo II sobre o Papel Sacerdotal dos Cristão Leigos"

Pe. Vincent Twomey apresenta Card. George Pell
O último trabalho da Conferência foi enviado pelo Pe. João Paulo Dantas. Com o título "As Novas Comunidades no Serviço de Unidade da Igreja. Reflexões sobre o Carisma dos Leigos à Luz do Pensamento de Joseph Ratzinger", a apresentação observou que durante as vésperas da solenidade de Pentecostes, em 2006, no contexto de um encontro com as Novas Comunidades, na Praça São Pedro, Papa Bento XVI fez uma homilia em que resumiu a missão do Espírito Santo na Igreja e no mundo através de três dons: vida, liberdade e unidade. Antes de concluir sua homilia, o Papa exortou os membros das Novas Comunidades: "Queridos amigos, eu convido vocês a colaborar cada vez mais com o ministério apostólico universal do Papa, abrindo as portas para Cristo". Em sua homilia, o Papa pareceu sugerir que existe uma relação teológica entre o ministério do sucessor de Pedro e a atividade apostólica das Novas Comunidades.

Pe. João Paulo Dantas

Pe. João Paulo destacou que essa declaração do papa ecoa uma idéia teológica expressa de forma magistral pelo Cardeal Ratzinger, num artigo denominado "Os Movimentos Eclesiais: Uma Reflexão Teológica sobre seu Lugar na Igreja", durante a abertura do Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais, organizado em Roma, em 1998, pelo Pontifício Conselho para os Leigos.

O palestrante buscou apresentar e analisar o artigo do Cardeal Ratzinger, do qual emerge uma bela e interessante reflexão sobre a relação entre as Novas Comunidades e o ministério do sucessor de Pedro, uma relação que, de acordo com Ratzinger, expande, num certo sentido, a noção tradicional de sucessão apostólica. Da apresentação se seguiu um grande debate.

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