sexta-feira, 19 de junho de 2015

Cardeais e Bispos africanos se reúnem em Acra para preparar a defesa da fé católica no Sínodo

Cinco cardeais e quarenta e cinco bispos de outros países africanos reuniram-se em Acra, capital de Gana, de 8 a 11 de junho. Todos à luz do sol, e não em segredo, como alguns de seus colegadas da Alemanha, França e Suíça, que se encontraram poucos dias antes na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Em ambos os casos, o motivo para os participantes era o mesmo: preparar a próxima sessão do Sínodo sobre a família.

(Sandro Magister/Chiesa/Infocatólica) Enquanto na [Universidade] Gregoriana o objetivo era a mudança na doutrina da Igreja sobre divórcio e homossexualidade, em Acra a orientação era a oposta.
A linha de atuação foi indicada pelo cardeal guineano Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino, com as suas primeiras frases pronunciadas:
"Não ter medo de confimar o ensino de Cristo sobre o matrimônio"
"Falar no Sínodo com claridade e com uma só voz, com amor filial à Igreja"
"Proteger a família de todas as ideologias que querem destruí-la e, portanto, também das políticas nacionais e internacionais que a impedem de promover seus valores positivos"

Sobres estas idéias, o consenso foi total. Também o único bispo da África subsaariana que recentemente havia expressado apoio a "aberturas" ao divórcio, Gabriel Charles Palmer-Buckle, de Acra, eleito pelos bispos de Gana como seu delegado no Sínodo, concordou com todos os participantes em relação à defesa da doutrina católica sobre a família.

Além de Sarah, os outros cardeais africanos presentes eram Christian Tumi, de Camarões; John Njue, do Quênia; Polycarp Pengo, da Tanzânia; e Berhaneyesus D. Souraphiel, da Etiopía, este último, criado cardeal pelo Papa Francisco no último consistório.

Organizado pelo Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar, o encontro se chamou "A Família na África - Que experiências e contribuições devemos levar à XIV Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos?".

Grupos de Trabalho
Para responder à pergunta do título, no primeiro dia os participantes debateram com base em quatro introduções temáticas, dividindo-se depois em grupos de trabalho, e, no dia seguinte, a partir de cinco linhas de discussão.

Uma delas, com o título "As expectativas do Sínodo", foi lida aos presentes pelo teólogo e antropólogo Edouard Ade, secretário-geral da Universidade Católica da África Ocidental, com sede em Cotonu, Benim, e em Abidjan, Costa do Marfim.

Inimigo do gênero humano
A preleção do professor Ade se deteve sobre o que ele chamou de "a estratégia do Inimigo do gênero humano". Visto que os objetivos máximos da bênção das segundas núpcias e das uniões homossexuais parecem estar fora do alcance, a dita "estratégia" consistiria em abrir caminhos que logo se ampliariam, obviamente dizendo palavras que não querem mudar a doutrina.

Esses caminhos seriam, p. ex., os "casos particulares" ilustrados pelos inovadores, bem sabendo que não seriam, absolutamente, casos isolados. Outra astúcia seria apresentar as mudanças como uma solução "de equilíbrio", entre a impaciência, por um lado, de quem desejaria em seguida divórcio e matrimônios homossexuais e, por outro, o rigorismo sem misericórdia da disciplina da Igreja Católica sobre o matrimônio.

Outro caminho seria dar a comunhão aos divorciados que tornaram a casar a todas as uniões fora do matrimônio - algo que já é feito em muitos lugares -, sem sequer esperar qualquer decisão da matéria por parte do Sínodo e do Papa.

Cavalos de Tróia
Ademais, o professor Ade alertou sobre os "cavalos de Tróia" adotados pelos progressistas, como o de atribuir um valor sempre positivo a todas as relações de vida comúm fora do matrimônio, ou considerar a indissolubilidade como um "ideal" que nem todos podem alcançar, ou o uso de novas linguagens que acabam alterando a realidade.

A palestra de Ade foi muito bem recebida pelos bispos e cardeais presentes, na medida em que se pode ver suas digitais no comunicado final, em que se lê que "há que se partir da fé, reafirmá-la e vivê-la com o fim de evangelizar em profundidade as culturas", cuidando de não adotar nem legitimar "a linguagem dos movimentos que militam para destruir a família".

Cardel Sarah, coluna firme na defesa da fé católica
Em uma grande entrevista de seis páginas, publicada nos mesmos dias, na França, no Semanário "Famille Chrétienne", o cardeal Sarah disse, entre outras coisas:
"No Sínodo de outubro próximo enfrentaremos, espero, a questão do matrimônio de modo totalmente positivo, buscando promover a família e seus valores. Os bispos africanos vão intervir para defender o que Deus pede ao homem sobre a família e aceitar o que a Igreja sempre ensinou".
E segue:
"Por que se há de pensar que apenas a visão ocidental do homem, do mundo, da sociedade, é a boa, é a justa, a universal? A Igreja deve combater e dizer "não" a esta nova colonização".
Assim se chama o título da entrevistas: "O cardeal Sarah: nos escutem ou não, nós falaremos". 
O encontro de Acra é a prova de que o bloco de bispos africanos será protagonista no Sínodo, como nunca antes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário