segunda-feira, 8 de junho de 2015

O culto dos santos na Igreja Católica

 Os precursores de Cristo com Santos e Mártires (detalhe)
Retábulo em Fiesole San Domenico (Itália)
Fra Angélico, séc. XV. 

Desde seus primórdios a Santa Igreja favoreceu o culto dos santos para benefício dos fiéis. Evolução histórica e questões teológicas relativas a essa temática de atualidade.
Diferença entre santidade e a “justificação pela fé” protestante
Em sentido estrito, só Deus é santo. Porque a santidade é a propriedade de seu Ser que Ele revela nas Sagradas Escrituras e que consiste no fato de que Deus, em sua onipotência, glória e majestade, está infinitamente acima de tudo que não é Ele, requerendo do homem uma atitude de adoração e o desejo de O imitar em suas perfeições.
Mas a santidade é também uma das notas essenciais da Igreja Católica que permitem reconhecê-la como a verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Isso significa que, sendo o Corpo Místico de Cristo, a Igreja Católica tem os meios sobrenaturais para tirar o homem do pecado e uni-lo a Deus. E também significa que nunca faltarão em seu seio almas que testemunhem essa força sobrenatural. Ou seja, santos.
A santidade no homem é o efeito da graça santificante e consiste na participação da santidade de Deus. Ela é inseparável das virtudes teologais — Fé, Esperança e Caridade — e, quando atinge sua plenitude, leva também as virtudes morais a um grau heroico, principalmente as virtudes cardeais da Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza.

Nisso reside uma das grandes diferenças entre a Igreja Católica e as seitas protestantes. A heresia da “justificação só pela fé” leva os adeptos do Protestantismo a supor que o Batismo não lava inteiramente a mancha do pecado original, motivo pelo qual até os atos mais heroicos do homem seriam censuráveis aos olhos de Deus. O homem apenas se salva, segundo eles, porque sua podridão é coberta exteriormente pela fé no caráter salvífico da morte de Jesus, mas no seu interior o fiel batizado permaneceria um pecador.
Os ensinamentos de Nosso Senhor, pelo contrário, afirmam que o “homem velho” é completamente renovado no seu interior pela graça e, embora ainda sujeito ao atrativo do mal — chamado concupiscência —, é capaz de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. E, por sua união com Deus, capaz de fazer obras boas e até heroicas, ganhando méritos para si e para seus irmãos pela comunhão dos santos.
O estado de união total com Deus a que o homem está chamado só é possível alcançá-lo após a morte, vendo a Deus face a face e sem nenhuma possibilidade de afastar-se d’Ele. Mas esse estado de beatitude já é prefigurado pela união íntima com Deus que possuem as almas que, nesta vida, correspondem generosamente aos apelos da graça divina. É essa santidade que a Igreja reconhece e apresenta como exemplo ao canonizar alguns de seus filhos, para mostrar que a santificação não é apenas uma possibilidade teórica, mas algo ao alcance de todos os que estão em estado de graça ou até dos pecadores que lavam sua alma pelo sacramento da Confissão.

Os cultos de dulia e hiperdulia
Em coerência com o que ficou dito, a Igreja não somente nos apresenta os santos como modelos, mas incita os fieis a cultuá-los e pedir sua intercessão junto a Deus, porquanto já gozam da vida eterna e, na corte celeste, são amigos de Deus. A eficácia da intercessão dos santos é fundamentada na intensidade da amizade existente entre eles e Deus e em virtude dos méritos que adquiriram na sua passagem pela Terra.
Dita veneração aos santos é chamada “culto de dulia”. Este é distinto do “culto de latria” ou de adoração, reservado somente a Deus. O “culto de dulia” é uma forma indireta de O louvar pela obra de santificação que Ele operou nesses santos e pelos exemplos de virtude que estes ostentaram quando residiam entre nós. No culto prestado às criaturas, sobressai o que é tributado a Nossa Senhora, por ser Ela a Mãe de Deus, ter uma relação ainda mais íntima com seu divino Filho e ser a Medianeira Universal entre Ele e nós, merecendo por isso de nossa parte um culto de “hiperdulia”.
Mas nossas relações com os santos não se esgotam no fato de admirarmos seus exemplos e pedirmos a sua intercessão. Pela comunhão dos santos, formamos com eles um só Corpo Místico e tendemos, todos juntos, a um mesmo fim, que é o de conhecer, amar e servir a Deus e participar plenamente da vida divina no Céu.



FONTE: Revista Catolicismo, n° 759 – Março de 2014 – Ano LXIV (Matéria extraída do endereço eletrônico: http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/24BA012A-AF4F-6528-05D84D310D562F20/mes/Março2014.



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