segunda-feira, 29 de junho de 2015

Superior Geral da FSSPX depois da visita do Vaticano aos seus seminários: "Francisco tem cumprido suas promessas, ele nos vê como católicos"

RORATE-CAELI - No sábado, 27 de junho, o jornal conservador francês Présent publicou uma entrevista com o Superior Geral da FSSPX, Dom Bernard Fellay, sobre o desenvolvimento surpreendentemente positivo do diálogo com a Fraternidade, e o que eles esperam para o futuro.

Por ocasião da bênção dos sinos da capela da escola Saint-Michel de La Martinerie, em Chatearoux, Dom Fellay atualizou o Présent sobre a FSSPX, da qual ele é Superior.



Em entrevista ao Fideliter, em 2001, você mencionou o "movimento de profunda simpatia do clero jovem para com a Fraternidade". Este movimento cresceu, especialmente com o Motu Proprio de 2007?

Sem dúvida! O Motu Proprio deu a este movimento um novo ímpeto. E é importante insistir sobre a atenção de Bento XVI com a liturgia em geral. Ele realmente desejou colocar a liturgia tradicional inteira, não apenas a missa, à disposição dos padres e dos fiéis; isto não aconteceu porque houve muita oposição. Mas os jovens padres se identificam com esta liturgia, precisamente porque é atemporal. A Igreja vive na eternidade. A liturgia faz isso também, e por isso é sempre jovem. Próxima de Deus, está fora do tempo. Assim, não é surpresa que o caráter batismal faça esta harmonia ressoar até em almas que nunca conheceram a liturgia. E a maneira como os jovens padres reagem quando descobrem esta liturgia é tocante: eles têm a impressão de que um tesouro foi escondido deles.

A Fraternidade foi oficialmente reconhecida como católica pela Argentina, com a ajuda do Cardeal Bergoglio, desde que se tornou Papa. Este fato tem uma importância meramente administrativa ou é mais do que isso?

Em primeiro lugar, isso tem um efeito jurídico e administrativo sem maiores implicações, na medida em que as relações da Fraternidade com a Igreja são problemáticas. Mas os efeitos secundários não são fáceis de se avaliar corretamente. Não há dúvidas de que o Papa Francisco, então Cardeal Bergoglio, prometeu ajudar a Fraternidade a obter do Estado argentino o reconhecimento de que é [uma associação] católica, e ele cumpriu esta promessa. Então, não temos porque não achar que ele nos considera católicos.

Nesse sentido, você foi nomeado pelo Vaticano juiz de primeira instância de um julgamento de  um padre da Fraternidade. Isso pode ser visto como um sinal de boa vontade?

Isso não é novo, já tem acontecido há 10 anos. É, de fato, um sinal de boa vontade. É algo que pode ser observado na Igreja em toda a sua história: seu realismo, sua capacidade de ir além das questões canônicas e jurídicas com vistas a achar soluções para os reais problemas.

Em sua Carta aos Amigos e Benfeitores, você mencionou "mensagens contraditórias" vindas de Roma. O que isso significa?

Eu estava pensando sobre o modo de como uma sociedade que se aproximava da Tradição foi tratada - ou maltratada: os Franciscanos da Imaculada. E as diferetes formas que nós fomos tratados pelas diversas autoridades de Roma: a Congregação dos Religiosos, p. ex., ainda nos considera cismáticos (em 2011, eles excomungaram um padre que se juntou à Fraternidade), mas este não é o caso de outras congregações, ou do próprio Papa, como nós dissemos.

"Pessimista", "fechada", "pensando que apenas os fiéis da FSSPX serão salvos": vocês são, algumas vezes, assim definidos. Como você responde? Na sua visão, o que é o espírito missionário?

Eu não me reconheço nessas expressões. Firmeza na doutrina é, de fato, necessária, pois a Fé é inegociável. A Fé é, como um todo, um dom de Deus, e nós não temos o direito de escolher apenas algumas entre as verdades reveladas. Hoje, lembranças dessas exigências não são bem vindas, como nem sempre foram. A expressão "o bom combate da Fé" [1Ti 6, 12] é parte da história da Igreja. Os missionários devem fazer a voz da Fé ser ouvida e, ao mesmo tempo, procurar reforçar a Fé daqueles que já a têm. Nós não podemos falar apenas para os fiéis da Fraternidade. A candeia ilumina o mundo, a luz da Fé brilha com fervor. A Fé deve ser acompanhada da Caridade: é assim que eu vejo os missionários.

Há algumas semanas, os seminaristas da Fraternidade foram visitados pelo Cardeal Brandmuller e por Dom [Athanasius] Schneider. Essas visitas são uma ligação pública com a "Igreja oficial". Isso não é necessário?

A ligação com a Igreja é vital. Os modos pelos quais essa ligação se manifesta podem variar. As datas e locais dessas visitas foram marcados por mim. O Vaticano fechou os nomes; eu escolhi os seminaristas porque eles me pareciam mais significativos e representativos para os bispos.

Quais foram as primeiras reações desses bispos?

Eles estavam muito satisfeitos. "Vocês são pessoas normais", eles nos disseram... o que mostra a [má] reputação que temos! Eles nos parabenizaram pela qualidade dos nossos seminaristas. Não há dúvidas, depois deste primeiro contato mais íntimo, de que nós somos uma obra da Igreja.

Você esteve em contato com alguns bispos que discretamente o apoiam?

É claro! Quando nós vemos aqueles padres se aproximando e entrando em contato conosco, nós facilmente podemos concluir que o mesmo é verdadeiro no mais alto nível [do clero]...

Na entrevista de 2001, já mencionada, você declarou: "se há alguma chance de que todos os nossos contatos com Roma possam trazer um pouco mais da Tradição para a Igreja, eu penso que nós deveríamos agarrar a oportunidade". Esta ainda é a sua opinião?

Esta permanece sendo nossa posição, ainda que nós não possamos dizer isso facilmente, especialmente por causa das notórias divergências dentro do próprio Vaticano. Essas relações são delicadas, mas nosso ponto de vista permanece válido e é confirmado pelos fatos. É um trabalho discreto, sendo acompanhado de perto por uma forte oposição. Alguns trabalham na mesma direção, outros na direção oposta.

O papel da FSSPX é ser como que um contrapeso importante dentro da Igreja?

Este papel não é novo. Dom Lefebvre o iniciou e nós continuamos. É fácil notar a irritação dos modernistas com os passos dados por Bento XVI.

Onde está a FSSPX hoje? Quais são seus pontos fortes e seus pontos fracos? O que você prevê para o futuro?

Eu vejo um futuro de paz. É um trabalho confiado ao Sacratíssimo Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, o que nós todos devemos fazer é permanecer fiéis à Sua vontade. Esta Igreja é a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, que permanece sendo sua cabeça e não permitirá a sua destruição.
As fraquezas da Fraternidade? O risco de separação é sério. Olhe para a caricatura de Tradição que eles chamam de "Resistência", p. ex.: é um espírito não católico que é quase sectário. Nós não temos nada a ver com isso; é um movimento autorreferencial, com pessoas que acham que são os únicos homens bons da Terra: isso não é católico. É um perigo objetivo, mas relativo. A maioria da Fraternidade é sã e não vai cair nessas ilusões. Isso nos encoraja a confiar nos meios sobrenaturais. Deus nos mostrará o que Ele quer de nós. Ele vai falar através das circunstâncias.
Os pontos fortes? A fidelidade viva que dá frutos e mostra que, mesmo no mundo de hoje, é possível uma vida verdadeiramente católica, ainda que com todas as dificuldades. Mas - um outro ponto fraco - nós somos homens do nosso tempo, e é um sonho pretender estar imune à influência do mundo moderno. Para ser mais preciso, nós devemos evitar a ilusão de desejar uma Igreja sem manchas aqui neste mundo: não foi isso que o Senhor nos prometeu. Não é isso que "Santa Igreja" significa; isso significa que ela é capaz de se santificar usando os meios dados por Nosso Senhor: os sacramentos, a Fé, disciplina, vida religiosa, vida de oração.

O que você pensa da sugestão do Cardeal Sarah de introduzir o ofertório [da missa] tradicional na missa nova?

Não é uma idéia nova, foi cogitada por Roma durante 10 anos. Eu fico feliz de que tenha voltado à tona. Alguns criticaram a idéia, dizendo que é uma forma de misturar o profano com o sagrado. Ao contrário, na perspectiva de devolver a sanidade para a Igreja, eu penso que pode ser um grande passo à frente, pois o Ofertório é um resumo dos princípios da Missa católica, do sacrifício expiatório oferecido para a Santíssima Trindade, oferecido pelo padre a Deus em reparação pelos nossos pecados, e acompanhado pelos fiéis. E nós gradualmente devolveremos aos fiéis a missa tradicional que eles perderam.

Como você gostaria de concluir, Eminênia?

Na minha opinião, nós estamos na véspera de eventos importantes que nós não podemos definir muito bem. Eu gostaria de pedir orações e terminar com uma contemplação a Deus, que nos permitiu sempre manter a esperança.

Entrevista realizada por Anne le Pape.

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