Por Padre Lucas Prados.
O homem foi criado por Deus como um animal racional, composto de corpo e alma. É o único ser, segundo o testemunho bíblico, que foi criado à imagem e semelhança de Deus, e a quem Deus constituiu como rei da criação (Gen 1, 26-28).
A criação do homem na Sagrada Escritura
Sobre a criação do homem, há dois relatos no livro do Gênesis:
Gen 1,26-28
"Então Deus disse: 'Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra.' Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher.Deus os abençoou: 'Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra'."
e Gen 2, 7-15,18, 21-23
"O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente. Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, do lado do oriente, e colocou nele o homem que havia criado. O Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores, de aspecto agradável, e de frutos bons para comer; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. Um rio saía do Éden para regar o jardim, e dividia-se em seguida em quatro braços: O nome do primeiro é Fison, e é aquele que contorna toda a região de Evilat, onde se encontra o ouro. (O ouro dessa região é puro; encontra-se ali também o bdélio e a pedra ônix.) O nome do segundo rio é Geon, e é aquele que contorna toda a região de Cusch. O nome do terceiro rio é Tigre, que corre ao oriente da Assíria. O quarto rio é o Eufrates. O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo".
"O Senhor Deus disse: 'Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada.'
(...)
Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem. 'Eis agora aqui, disse o homem, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem'."
Resumindo o conteúdo desses relatos e algumas conclusões que decorrem deles, diremos o seguinte: o homem foi diretamente criado por Deus, tomando o barro da terra e insuflando nele o sopro da vida. Uma matéria que já existia foi tomada e moldada diretamente por Deus, e logo ele lhe inspirou o "sopro da vida" (alma). A alma é diretamente criada por Deus, não uma evolução da matéria. Deus, interveio também na formação do corpo do homem, tomando a matéria que já existia e modelando-a "com suas próprias mãos".
Foi criado à sua imagem e semelhança: o homem inteiro (corpo e alma) foi feito à imagem e semelhança de Deus. Pode-se dizer que essa expressão do homem como imagem de Deus manifesta três características da condição humana: sua dignidade (pois reflete a glória de Deus); sua fecundidade (abençoada por Deus); e seu domínio sobre a terra e suas criaturas, embora mais propriamente se diga que é "administrador" desses bens, uma vez que deve cuidá-los da forma como Deus deseja.
Os criou homem e mulher: a diferença de sexo é determinada por Deus. É contrário à lei de Deus tentar mudar o sexo de uma pessoa e fazê-lo diferente de como Deus o criou.
Foram colocados no Jardim do Éden: o homem original foi colocado por Deus em um lugar ideal chamado "Jardim do Éden". Pelo que foi ensinado posteriormente ao pecado original, sabemos também que tinham amizade com Deus (dons sobrenaturais), eram imortais e possuíam ciência infusa (dons preternaturais), bem como tinham os dons próprios de sua natureza: entendimento e vontade, em maior grau do que o homem possui hoje, pois essas faculdades não haviam ainda sido afetadas pelo pecado original.
Abençoou-lhes e deus-lhes a ordem e o poder para multiplicarem-se, dominarem a terra e submetê-la: um poder que inclui não apenas multiplicar-se, dominar e submeter a terra, mas também respeitá-la. Tudo o que se relaciona à vida é sagrado, provém de Deus e é uma benção. A fecundidade é um dom de Deus e fruto de sua bênção.
Receberam a ordem de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal: com esta proibição, Deus determinou que só Ele podia estabelecer o que era bom ou mau. Ao homem cabia respeitar esta ordem se quisesse continuar usufruindo do Paraíso. Todos sabemos o que houve depois.
O homem reconhece que a mulher possui a mesma dignidade que ele: e a ela se unirá por toda vida, formando uma só carne. O homem e a mulher possuem a mesma dignidade, ainda que as funções que devam realizar nesta vida não sejam as mesmas, mas complementares. Para isso, cada sexo recebeu de Deus faculdades diferentes para poder cumprir melhor sua missão. Aqui também está incluso o matrimônio como instituição natural. Matrimônio formado por "um homem" e "uma mulher". E não por dois homens ou duas mulheres, ou por um homem e várias mulheres, nem por uma mulher e vários homens. Deus estabeleceu essa diferença de sexo para que, seguindo a mesma ordem que aparece na criação, fossem capazes de procriar. E para que essa união seja estável, e assim pudessem amar, respeitar e educar a prole, estabeleceu que essa união fosse indissolúvel.
Algumas questões que surgem a partir desses relatos da criação:
1.- A alma é criada por Deus no momento da concepção: frente ao behaviorismo e outras filosofias materialistas modernas, que reduzem a alma a "matéria evoluída" que adquire as faculdades de pensar e amar, a Igreja defende que a alma é espiritual e imortal, criada por Deus individualmente para cada pessoa no momento da sua concepção. A Igreja sempre acreditou e ensinou que o homem é composto de alma e corpo, ambos formados por Deus. O corpo com o concurso dos pais, e, a alma, criada e infundida diretamente por Deus sobre o novo ser.
Este corpo, que em princípio e por graça especial de Deus foi feito imortal (dons preternaturais), experimentará a morte e a corrupção no momento em que seu princípio vital, a alma, se separar dele. Pois sabemos pela fé que este corpo corruptível que agora enterramos será transformado na vida futura, voltando-se a unir-se com a sua alma, para gozar da bem-aventurança celeste ou sofrer o castigo eterno(1 Cor 15, Missa de exéquias fúnebres do Missal Romano).
2.- A dignidade da mulher: algumas culturas quiseram ver nestes relatos bíblicos argumentos para justificar uma inferioridade da mulher em relação ao homem. A saber: por ter sido criada depois do homem, por ter sido criada de uma costela do homem, porque é o homem quem dá nome à mulher, e porque é criada para ser auxiliar do homem.
Frente a isso, temos de dizer que a mulher goza de uma importância e de uma igualdade semelhante à do homem em todo o Novo Testamento. P. ex.: Maria aparece como a pessoa humana mais importante de toda a criação (Mãe de Deus e Rainha do Céu); a atitude de extraordinário respeito e carinho de Jesus pelas mulheres (Jn 4,27; 8, 1ss.). E isso se contrapõe à desvalorização da mulher em outras culturas (paganismo, judaísmo e islamismo).
Não obstante, não podemos esquecer que, ainda que homem e mulher tenham a mesma dignidade, seus papéis na vida são diferentes. A mulher tem um papel específico, singularíssimo e absolutamente necessário no plano de Deus. Por esse papel tão especial, a mulher tem uma vocação própria que hoje tende a ser menosprezada, devido à influência das ideologias feministas.
3.- Sobre a homossexualidade e a "ideologia de gênero": no mundo atual, a distinção de sexos e a diferenla entre a feminilidade e a masculinidade está sendo abolida. Tem crescido a idéia, promovida pelo "lobby gay", de que a homossexualidade e outras deformações da vida sexual são naturais e positivas. Este modo de pensar, que está se propagando através dos meios de comunicação, escolas..., estão causando um gravíssimo dano entre os mais jovens.
Recordo que há uns meses que uma criança da catequese de primeira comunhão me perguntava o porquê de dois homens e duas mulheres não poderem se casar, mesmo que se gostem de verdade. Esse modo de raciocinar não é próprio dessa idade. Tenho certeza de que foram aqueles encarregados de "educar" as crianças que estão causando tais estragos.
Atualmente, se um sacerdote fala do púlpito, como todo o respeito e caridade, contra a homossexualidade ou a ideologia de gênero, rapidamente é atacado pela imprensa, e o caso é publicado em seguida pelos jornais. Nem uma semana se passa do ocorrido e o bispo chama a atenção deste padre para que seja mais prudente. Por acaso o "lobby gay" pode destruir a moral pessoal e social e nós não podemos nos defender? Dá a impressão de que este lobby é tão poderoso que está enterrando todos os princípios morais de nossa sociedade.
As raízes do propósito de justificação deste pecado tão nefando, como a homossexualidade, residem em vários elementos:
- O fato de que a sociedade, que antes seguia os princípios de uma moral baseada no direito natural, tenha abandonado Deus e suas leis;
- A desvalorização da instituição do matrimônio, tanto por parte das leis civis, como canônicas, pela aprovação do divórcio.
- A compreensão e dimensão disparatada que adquiriu a sexualidade em nossos dias. Sexualidade que tem perdido a dignidade e a grandeza que Deus havia lhe dado na criação.
Separada, ainda que intimamente relacionada com o fenômeno da homossexualidade, está a "ideologia de gênero". Com o fim de justificar essa posição, se faz uma falsa distinção entre "sexo físico ou biológico" e masculinidade/feminilidade. Em seu rechaço ao plano divino, o homem quer "fabricar" seu próprio sexo, segundo se sinta homem ou mulher, independentemente do sexo biológico que Deus lhe deu. Segundo esta ideologia de gênero, o sexo de uma pessoa é determinado pela educação, pela cultura e pelos próprios gostos.Uma vez mais, o homem se rebela contra os planos de Deus e contra a própria natureza humana. Este é um símbolo da mais profunda degeneração que sofre nossa sociedade.
Ante tudo isso, lembremos o que nos dizem as Sagradas Escrituras:
Gen 19, 1-29: É o castigo de Sodoma e Gomorra, por haver caído no pecado da homossexualidade.
Lev 20,13: “Se um homem dormir com outro homem, como se fosse mulher, ambos cometerão uma coisa abominável. Serão punidos de morte e levarão a sua culpa.”.
Rom 1, 26-27: “Por isso, Deus os entregou a paixões vergonhosas: as suas mulheres mudaram as relações naturais em relações contra a natureza. Do mesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida ao seu desvario.”.
1 Cor 6, 9-10: “Acaso não sabeis que os injustos não hão de possuir o Reino de Deus? Não vos enganeis: nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de Deus.”.
O pecado de sodomia sempre foi condenado pelos Padres da Igreja (São Clemente de Alexanria, Santo Agostinho...). O magistério da Igreja sempre ensinou que a prática da homossexualidade é contra a natureza um e pecado grave [1]. Mais: a Igreja sempre disse que a homossexualidade não é um direito da pessoa [2], e sim uma manifestação da degeneração que sofre o ser humano quando abandona a seu criador.
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[1] DS 4583.
[2] Congregacão para a Doutrina da Fé, Considerações para a resposta católica a propostas legislativas de não discriminacão a homossexuais, de 23 de julho de 1992, números 10-12.
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