terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O Uso do Véu

Fonte: Fish Eaters - Há dois mil anos, as mulheres católicas cobrem a cabeça ao entrarem na igreja ou quando na presença do Santíssimo Sacramento (p. ex., ao receber o viático). Previa o Código de Direito Canônico de 1917, no Cânon 1.262, que as mulheres deveriam cobrir a cabeça - "especialmente ao se aproximar da mesa de comunhão" - mas, durante o Concílio Vaticano II, [Dom Anibale] Bugnini foi questionado por jornalistas se as mulheres ainda teriam de agir assim. Ele respondeu, talvez inocentemente, que a matéria não estava sendo discutida. Os jornalistas tomaram a sua resposta como um "não" e publicaram suas desinformações nos jornais ao redor do mundo. Desde então, muitas católicas, senão a maioria, romperam com esta tradição.

Após anos de mulheres esquecendo ou repudiando o véu, os sacerdotes, evitando confrontar ou aborrecer feministas radicais, queriam que o assunto caísse no esquecimento. Quando o Código de Direito Canônico de 1983 foi elaborado, o véu simplesmente não foi citado (não que tenha sido ab-rogado, mas simplesmente não foi citado). No entanto, os Cânons 20-21 deixavam claro que o novo Código somente ab-rogava aquelas normas assim expressamente declaradas e que, em caso de dúvida, a revogação da lei antiga não deveria ser presumida, muito pelo contrário:


Cânon 20 - A lei posterior ab-roga ou derroga a anterior, se expressamente o declara, se lhe é diretamente contrária, ou se reordena inteiramente toda a matéria da lei anterior; a lei universal, porém, de nenhum modo derroga o direito particular ou especial, salvo determinação expressa em contrário no direito.



Cânon 21 - Na dúvida, não se presume a revogação de lei preexistente, mas leis posteriores devem ser comparadas com as anteriores e, quanto possível, com elas harmonizadas.



Cânon 27 - O costume é o melhor intérprete da lei.



Cânon 28 - Salva a prescrição do cân. 5, o costume contra ou à margem da lei é revogado por um costume ou lei contrários; mas, se não fizer expressa menção deles, uma lei não revoga costumes centenários ou imemoriais, nem a lei universal, costumes particulares.


O uso do véu na Igreja é um assunto importante, que diz respeito a dois milênios de tradição - e que remonta aos costumes do Antigo Testamento e às admoestações do Novo. São Paulo escreveu:


1 Coríntios 11,1-17: 

1. Tornai-vos os meus imitadores, como eu o sou de Cristo. 2.Eu vos felicito, porque em tudo vos lembrais de mim, e guardais as minhas instruções, tais como eu vo-las transmiti. 3.Mas quero que saibais que senhor de todo homem é Cristo, senhor da mulher é o homem, senhor de Cristo é Deus. 4.Todo homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta falta ao respeito ao seu senhor. 5.E toda mulher que ora ou profetiza, não tendo coberta a cabeça, falta ao respeito ao seu senhor, porque é como se estivesse rapada. 6.Se uma mulher não se cobre com um véu, então corte o cabelo. Ora, se é vergonhoso para a mulher ter os cabelos cortados ou a cabeça rapada, então que se cubra com um véu. 7.Quanto ao homem, não deve cobrir sua cabeça, porque é imagem e esplendor de Deus; a mulher é o reflexo do homem. 8.Com efeito, o homem não foi tirado da mulher, mas a mulher do homem; 9.nem foi o homem criado para a mulher, mas sim a mulher para o homem. 10.Por isso a mulher deve trazer o sinal da submissão sobre sua cabeça, por causa dos anjos. 11.Com tudo isso, aos olhos do Senhor, nem o homem existe sem a mulher, nem a mulher sem o homem. 12.Pois a mulher foi tirada do homem, porém o homem nasce da mulher, e ambos vêm de Deus. 13.Julgai vós mesmos: é decente que uma mulher reze a Deus sem estar coberta com véu? 14.A própria natureza não vos ensina que é uma desonra para o homem usar cabelo comprido? 15.Ao passo que é glória para a mulher uma longa cabeleira, porque lhe foi dada como um véu. 16.Se, no entanto, alguém quiser contestar, nós não temos tal costume e nem as igrejas de Deus [i.e., se alguém se queixar disso, não temos o que fazer, este é nosso costume, todas as igrejas agem do mesmo modo] 17.Fazendo-vos essas advertências, não vos posso louvar a respeito de vossas assembléias que causam mais prejuízo que proveito.

De acordo com São Paulo, as mulheres cobrem a cabeça para mostrar que a glória de Deus, não a delas, deve ser o centro do culto, e como um símbolo de submissão à autoridade. É um sinal exterior de reconhecimento da autoridade de Deus e de seus maridos (ou pais, conforme o caso), e de respeito aos Santos Anjos na Liturgia. Ao cobrir a cabeça, as mulheres refletem a ordem divina invisível e a tornam visível. São Paulo apresenta isso claramente como uma norma, a qual é seguida em todas as igrejas.

Algumas mulheres, influenciadas pelo pensamento de feministas "cristãs", acreditam que São Paulo falava como um homem de seu tempo e que esta norma não se aplica mais. Elas usam as mesmas alegações que os defensores do homossexualismo fazem ao tentar sustentar sua tese. Com efeito, o militante homossexual Rollan McCleary, que acredita que Jesus era "gay", tenta mostrar que as admoestações de São Paulo contra o homossexualismo eram condicionadas pela cultura da época.

No Novo Testamento, o Apóstolo Paulo escreve sobre "homens que, abandonando o uso natural da mulher, arderam em em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida ao seu desvario" (Rm 1,27).

Questionado sobre essas passagens, McCleary afirma que as referências das Escrituras ao homossexualismo foram mal interpretadas ou tomadas fora de contexto. "Naqueles dias, eles não concebiam a homossexualidade como uma identidade", disse. "Tinha mais a ver com outros fatores da sociedade... a homossexualidade era associada a práticas de idolatria".

No caso dos escritos do Apóstolo: "todos concordam com o que diz São Paulo sobre a escravidão [ou] sobre as mulheres cobrirem a cabeça? Há coisas que dependem do contexto histórico".

É claro que nós católicos concordamos com São Paulo sobre a escravidão (ademais, São Paulo não estava se referindo ao escravagismo), sobre o véu e tudo o mais! Por favor! Mas a questão do progressista citado é: se os cristãos rejeitam o véu, por que não rejeitar outras coisas que São Paulo tem a dizer? A mulher católica tradicional tem a resposta para este desafio: "nós usamos véu e não discordamos de São Paulo"! Mas o que as mulheres que não usam véu podem sustentar? E quais outras admoestações bíblicas elas podem desrespeitar por um capricho - ou por seguir o mau exemplo de uma geração de católicas mornas ou desinformadas?

Agora, peço aos leitores que releiam a passagem bíblica sobre o véu e notem bem que São Paulo nunca hesitou em quebrar tabus. Foi ele que enfatizou várias e várias vezes que a circuncisão e as demais prescrições da Lei Mosaica não eram mais necessárias - e isso quando falava para cristãos hebreus! Não, a tradição e a norma do uso do véu não era um assunto no qual São Paulo tenha sido influenciado pela cultura; trata-se de um símbolo que é tão relevante quanto a batina dos padres e o hábito das freiras.

Percebam também que São Paulo de modo algum está sendo "misógino" aqui. Ele nos assegura que, enquanto a mulher é feita para a glória do homem, o homem é feito para a glória de Deus. "Com tudo isso, aos olhos do Senhor, nem o homem existe sem a mulher, nem a mulher sem o homem. Pois a mulher foi tirada do homem, porém o homem nasce da mulher, e ambos vêm de Deus". Os homens precisam das mulheres, as mulheres precisam dos homens. Mas temos papéis diferentes, ainda que iguais em dignidade - e tudo para a glória de Deus (e, claro, nós temos de tratar uns aos outros de forma absolutamente igual , segundo a caridade!). O Véu representa o reconhecimento desses diferentes papéis.

O véu também é um sinal de modéstia e castidade. Nos tempos do Antigo Testamento, deixar descoberta a cabeça de uma mulher era um modo humilhá-la ou de punir adúlteras e mulheres que transgrediam a Lei (p.ex., Num 5,12-18; Is 3,16-17; Can 5,7). Uma mulher hebréia nem sonharia em entrar no Templo (ou, mais tardem na sinagoga), sem cobrir a cabeça. Esta prática simplesmente permaneceu na Igreja (bem como entre cristãos ortodoxos e mesmo entre judias "ortodoxas").

O que é sagrado é coberto por um véu

Veja o que São Paulo diz: "Ao passo que é glória para a mulher uma longa cabeleira, porque lhe foi dada como um véu". Não cobrimos a cabeça por causa de algum sentimento "original" de pudor, mas para que se esconda o orgulho da mulher, de modo que sobressaia apenas a glória de Deus. Usamos o véu porque somos sagradas - e porque a beleza feminina é incrivelmente poderosa. Se você não acredita em mim, imagine o quanto a imagem da "mulher" é usada para vender tudo, de xampu a carros. Nós, mulheres, precisamos entender a força da mulher e agir de acordo com as regras da modéstia, incluindo o uso do véu.

Ao entregar nossa glória à liderança de nossos maridos e para Deus, rendemo-nos a eles da mesma forma que a Santíssima Virgem rendeu-se ao Espírito Santo ("Faça-se em mim segundo a Vossa vontade"). O véu é um símbolo tão poderoso - e belo - como quando um homem se ajoelha para pedir uma mulher em casamento.

Agora, pense em tudo o que era coberto por um véu no Antigo Testamento - O Santo dos Santos!

Hebreus 9:1-8
"A primeira aliança, na verdade, teve regulamentos rituais e seu santuário terrestre.Consistia numa tenda: a parte anterior encerrava o candelabro e a mesa com os pães da proposição; chamava-se Santo.Atrás do segundo véu achava-se a parte chamada Santo dos Santos.Aí estava o altar de ouro para os perfumes, e a Arca da Aliança coberta de ouro por todos os lados; dentro dela, a urna de ouro contendo o maná, a vara de Aarão que floresceu e as tábuas da aliança; em cima da arca, os querubins da glória estendendo a sombra de suas asas sobre o propiciatório. Mas não é aqui o lugar de falarmos destas coisas pormenorizadamente.Assim sendo, enquanto na primeira parte do tabernáculo entram continuamente os sacerdotes para desempenhar as funções,no segundo entra apenas o sumo sacerdote, somente uma vez ao ano, e ainda levando consigo o sangue para oferecer pelos seus próprios pecados e pelos do povo.Com o que significava o Espírito Santo que o caminho do Santo dos Santos ainda não estava livre, enquanto subsistisse o primeiro tabernáculo"

A Arca da Aliança do Antigo Testamento estava guardada no Santo dos Santos, que era coberto por um véu. Na missa, o que fica coberto por um véu até o Ofertório? O Cálice - o vaso que carrega o Preciosíssimo Sangue! E, entre as missas, o que é coberto por um véu? O Cibório no Tabernáculo, o vaso que guarda o Corpo de Cristo. Esses tabernáculos da vida são cobertos por um véu porque são sagrados.

E quem é coberta por um véu? Quem é Imaculada, a Arca da Nova Aliança? Nossa Senhora - e ao usar o véu, a imitamos e afirmamos nossa feminilidade, como tabernáculo da vida.

Este ato aparentemente pequeno é:

- tão rico como símbolo de submissão à autoridade; de entrega a Deus; de imitação de Nossa Senhora como mulher que pronunciou seu "fiat"; de renúncia a si mesma em prol da glória de Deus; de modéstia; de castidade; de tabernáculo da vida, como o Cálice, o Cibório e, especialmente, Nossa Senhora;
- uma norma apostólica - com raízes no Antigo Testamento - e, portanto, relacionado à Tradição;
- o modo pelo qual as mulheres católicas prestam culto há dois milênios (i.e., ainda que não sendo uma questão da Sagrada Tradição, num sentido estrito, é, enfim, item da tradição eclesiástica, que também deve ser acolhida). É nossa herança, uma parte da cultura católica;
- prático: deixa o sujeito livre para se distrair menos com penteados bizarros;
- para os rebeldes, faz parte da contracultura da atualidade, você tem que admitir!

A questão que eu gostaria de colocar é: "por que uma mulher católica não quer usar véu"?

[...]

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