quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Como nos unir ao sacrifício eucarístico?

Por Garrigou-Lagrange, OP.

Pode-se aplicar a isso o que Santo Tomás [1] diz sobre a atenção na oração vocal: “A atenção pode estar ou bem nas palavras para bem pronunciá-las, ou no sentido das palavras, ou no fim da oração, quer dizer em Deus e naquilo pelo que se reza... Esta ultima atenção, que os mais humildes, sem cultura podem ter, é algumas vezes tão grande que é como se o espírito fosse elevado para Deus e se esquecesse de todo o resto”.
  
Assim também para bem assistir a missa, com fé, confiança, verdadeira piedade e amor, podemos segui-la de maneiras diferentes. Podemos estar atentos às preces litúrgicas, geralmente tão belas e tão cheias de unção, de elevação e de simplicidade. Podemos lembrar a Paixão e a Morte do Salvador, cuja missa é o memorial e se considerar como estando ao pé da Cruz com Maria, João, as santas mulheres. Podemos ainda nos aplicar  a render a Deus, em união com Jesus, os quatro deveres que são os fins do Sacrifício: adoração, reparação, pedido e ação de graças[2]. Desde que se reze, mesmo recitando piedosamente seu terço, assistimos com frutos à missa. Podemos também com grande proveito, como santa Joana de Chantal e muitos santos, continuar com a sua oração, sobre tudo se somos levados a um puro e intenso amor, um pouco como são João na Ceia repousando sobre o Coração de Jesus.
 
Mas de qualquer maneira que se siga a Missa, é preciso insistir em uma coisa importante. É preciso sobretudo nos unirmos profundamente à oblação do Salvador, o sacerdote principal: com ele, é preciso oferecê-lo a seu Pai,  nos lembrando que esta oblação agrada mais a Deus do que todos os pecados lhe desagradam. É preciso nos oferecer, cada dia, mais profundamente, oferecer particularmente as penas e contrariedades que costumamos ter e aquelas que se apresentarão durante o dia.
  
É assim que no ofertório o padre diz: “In spiritu humilitatis et in animo contrito suscipiamur a te, Domine: É com espírito de humildade e coração contrito que vos pedimos, Senhor, de nos receber”.
  
O autor da Imitação, I. IV, cap. VIII, insiste com razão sobre este ponto: O Senhor diz: “ Como me ofereci voluntariamente a meu Pai por vossos pecados, na cruz..., assim deveis todos os dias, no sacrifício da Missa, vos oferecer a mim, como uma hóstia pura e santa, do mais profundo do vosso coração... É a vos que eu quero e não vossos dons... Se permanecerdes em vós mesmos, se não vos abandonardes  sem reserva a minha vontade, vossa oblação não será completa e não estaremos unidos perfeitamente”.
  
No capitulo seguinte, o fiel responde: “Na simplicidade de meu coração, eu me ofereço a vós meu Deus, para vos servir para sempre... Recebei-me com a oblação santa de vosso precioso Corpo... Ofereço-vos também tudo o que há de bom em mim, por mais imperfeito que seja, para que vós a torne mais digna de vós. Ofereço-vos ainda todos os piedosos desejos das almas fieis, a oração por aqueles que me são queridos... A súplica por aqueles que me ofenderam ou entristeceram, por aqueles também que eu mesmo afligi, feri, escandalizei, sabendo ou não, afim de que nos perdoeis todas nossas ofensas mútuas... e fazei que sejamos dignos de gozar aqui na terra dos vossos dons e alcançar a vida eterna.”
  
A missa assim compreendida é uma fonte fecunda de santificação, de graças sempre renovadas; por ela pode-se realizar cada vez melhor para nós a oração do Salvador: Dei-lhes a luz que vós me destes, para que sejam um como nós somos um, Eu neles e vós em mim, afim de que eles sejam perfeitamente um e que o mundo saiba que vós me enviastes e que vós os amastes como vós me amais” (João, XVII, 23).
  
A visita ao Santíssimo Sacramento deve nos recordar a missa da manhã e devemos pensar que no Tabernáculo, se não há sacrifício propriamente dito, que cessa com a missa, no entanto Jesus realmente presente continua a adorar, orar e render graças. Deveríamos nos unir a essa oblação do Salvador a qualquer hora do dia. Como diz a oração do Coração Eucarístico: “Ele é paciente a nos esperar, apressado em nos atender; é a sede de todas as graças sempre renovadas, o refúgio da vida escondida, o mestre dos segredos da união divina”. Devemos junto ao Tabernáculo, “calar-nos para escutar, e abandonar-nos para nele nos perder”[3].
  
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(Tradução: Permanência. Originalmente publicado em “La Vie Spirituel” n º 187, 1º - 04 – 1935)

1.IIa IIae, q. 82, a.13.
2.A primeira parte da missa até o ofertório nos inspira sentimentos de penitencia e contrição (confiteor, Kyrie eleison), de adoração e de reconhecimento (Gloria in excelsis), de súplica (Colleta), de fé viva (Epitre, Evangile, Credo), para nos preparar para o oferecimento da santa Vitima, seguida da comunhão e da ação de graças.
3.Recomendamos, para ler durante a visita ao Santíssimo Sacramento ou para meditar como assunto de oração, Les elevations sur laPriere au Coeur Eucharistique de Jesus, que foram publicadas pela primeira vez em 1926, Editions de laVie Spirituelle.

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