sábado, 30 de janeiro de 2016

Domingo da Sexagésima

A Semente é a palavra de Deus

Epístola de São Paulo Apóstolo aos Coríntios (IICor XI, 19-33 e XII,1-9)

Irmãos: Vós, sendo homens sensatos, suportais de boa mente os loucos... Sim, tolerais a quem vos escraviza, a quem vos devora, a quem vos faz violência, a quem vos trata com orgulho, a quem vos dá no rosto. Sinto vergonha de o dizer; temos mostrado demasiada fraqueza... Entretanto, de tudo aquilo de que outrem se ufana (falo como um insensato), disto também eu me ufano. São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São ministros de Cristo? Falo como menos sábio: eu, ainda mais. Muito mais pelos trabalhos, muito mais pelos cárceres, pelos açoites sem medida. Muitas vezes vi a morte de perto. Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de meus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, freqüentes jejuns, frio e nudez!  Além de outras coisas, a minha preocupação cotidiana, a solicitude por todas as igrejas! Quem é fraco, que eu não seja fraco? Quem sofre escândalo, que eu não me consuma de dor? Se for preciso que a gente se glorie, eu me gloriarei na minha fraqueza. Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é bendito pelos séculos, sabe que não minto. Em Damasco, o governador do rei Aretas mandou guardar a cidade dos damascenos para me prender. Mas, dentro de um cesto, desceram-me por uma janela ao longo da muralha, e assim escapei das suas mãos. Importa que me glorie? Na verdade, não convém! Passarei, entretanto, às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado até o terceiro céu. Se foi no corpo, não sei. Se fora do corpo, também não sei; Deus o sabe. E sei que esse homem - se no corpo ou se fora do corpo, não sei; Deus o sabe - foi arrebatado ao paraíso e lá ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir. Desse homem eu me gloriarei, mas de mim mesmo não me gloriarei, a não ser das minhas fraquezas. Pois, ainda que me quisesse gloriar, não seria insensato, porque diria a verdade. Mas abstenho-me, para que ninguém me tenha em conta de mais do que vê em mim ou ouve dizer de mim. Demais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade. Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim. Mas ele me disse: Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força. Deo gratias!

Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (VIII,4-15)

Naquele tempo: Havia se reunido uma grande multidão: eram pessoas vindas de várias cidades para junto dele. Ele lhes disse esta parábola: Saiu o semeador a semear a sua semente. E ao semear, parte da semente caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram. Outra caiu no pedregulho; e, tendo nascido, secou, por falta de umidade. Outra caiu entre os espinhos; cresceram com ela os espinhos, e sufocaram-na. Outra, porém, caiu em terra boa; tendo crescido, produziu fruto cem por um. Dito isto, Jesus acrescentou alteando a voz: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!
Os seus discípulos perguntaram-lhe a significação desta parábola. Ele respondeu: A vós é concedido conhecer os mistérios do Reino de Deus, mas aos outros se lhes fala por parábolas; de forma que vendo não vejam, e ouvindo não entendam. Eis o que significa esta parábola: a semente é a palavra de Deus. Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem; mas depois vem o demônio e lhes tira a palavra do coração, para que não creiam nem se salvem. Aqueles que a recebem em solo pedregoso são os ouvintes da palavra de Deus que a acolhem com alegria; mas não têm raiz, porque creem até certo tempo, e na hora da provação a abandonam. A que caiu entre os espinhos, estes são os que ouvem a palavra, mas prosseguindo o caminho, são sufocados pelos cuidados, riquezas e prazeres da vida, e assim os seus frutos não amadurecem. A que caiu na terra boa são os que ouvem a palavra com coração reto e bom, retêm-na e dão fruto pela perseverança. Laus tibi, Christe!

Lefebvre, Dom Gaspar. Missal Quotidiano e Vesperal. Bruges, Bélgica; Abadia de S. André, 1960

“A semente que caiu em terra boa [...] deu fruto centuplicado”
Se me perguntais o que quer Jesus Cristo dizer com este semeador que saiu no início da manhã para ir lançar a semente no seu campo, meus irmãos, [digo-vos que] o semeador é o bom Deus que começou a trabalhar na nossa salvação logo no princípio do mundo, enviando-nos os profetas antes da vinda do Messias para nos ensinar o que é necessário para sermos salvos. E não Se contentou em enviar os Seus servos, mas veio Ele mesmo, indicou-nos o caminho que devíamos seguir e veio anunciar-nos a palavra sagrada.
Sabeis como é uma pessoa que não se alimenta desta palavra sagrada? [...] É semelhante a um doente sem médico, a um viajante perdido e sem guia, a um pobre sem recursos. É completamente impossível, meus irmãos, amar a Deus e agradar-Lhe sem nos alimentarmos desta divina palavra. O que nos poderá levar a agarrarmo-nos a Ele, se não for o conhecimento que temos Dele? E quem no-Lo dá a conhecer, com todas as Suas perfeições, a Sua beleza e o Seu amor por nós, se não a palavra de Deus que nos ensina tudo o que Ele fez por nós e todos os benefícios que nos preparou na outra vida? 

São João Maria Vianney (1786-1859), padre diocesano, Cura (Pároco) de Ars
Sermão sobre a Parábola do Semeador

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