segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Cinco dicas para acompanhar o Sínodo dos Bispos sobre a família

Francis and the Synod fathers in 2014
Sínodo dos Bispos, 2014.
Por Robert Royal.

Um sínodo, como já estou cansado de dizer, não tem poder legislativo, mas consultivo. Apesar de toda angústia e animosidade que vimos antes da abertura das sessões (que iniciarão hoje), um sínodo pode não dizer nada - ou pode dizer tudo. Em última instância, o próprio Papa terá de decidir o que fazer com os resultados. Ele pode até, como fez Paulo VI, ao reafirmar o ensinamento da Igreja sobre a contracepção, simplesmente rejeitar as propostas apresentadas. É uma das vantagens do papado: você pode dirigir um Fiat 500, mas ainda terá a última palavra sobre fé e moral.



[...]

Eu estive no Sínodo de 2014 e vi como poucas frases inflamadas podem desviar todos dos esforços necessários para defender a família. Precisamos manter nossos olhos na bola dessa vez, ou os radicais vencerão por pura omissão dos demais.

Para ajudar nisso, desenvolvi cinco dicas para acompanhamento do Sínodo [...]:

Dica nº 1: Seja cauteloso ao tirar conclusões. 
Todo mundo que você conhece "sabe" o que significa o Sínodo. Espere. Pratique um saudável ceticismo. Resista à tentação de reivindicar coisas que ficarão incertas por um tempo. A Verdade demora. As vezes, não haverá muita verdade em jogo. Eu estive na Europa há poucos dias, mas acompanhei as polêmicas sobre os encontros do Papa com Kim Davis e com um "casal" gay na nunciatura de Washington. Por mais chocante que seja, o Papa Bergoglio manter uma relação de amizade com um homossexual - algo impensável para qualquer papa anterior - e quase ter dissimulado sobre Kim Davis e as Pequenas Irmãs dos Pobres, eu não tiraria imediatamente nenhuma grande conclusão disso. Ou, a partir de coisas semelhantes que vocês verão nos próximos dias. A imprensa apenas distorce bastante, assim como os vazamentos do Vaticano.

Bem, talvez eu possua supor algo sobre os gays. Este papa é um homem de gestos, não de idéias. Isso não significa que ele saiba ou posso controlar o que os seus gestos exprimem. O presidente da Conferência dos Bispos Americanos, Arcebispo Kurtz e o Arcebispo Lori, de Baltimore, o homem da Igreja quando se trata de liberdade religiosa, pressionou Francisco a expressar solidariedade com as pessoas que sofrem com a "ditadura gay". Durante sua viagem aos EUA, ele não se manifestou em favor do matrimônio contra a ideologia de gênero, ou contra o aborto, ou em defesa da liberdade religiosa, salvo em termos muito gerais. Você tem de fazer um esforço para achar isso no meio de muitas outras palavras. Não foi um dos seus grandes gestos. Por outro lado, há um vínculo pessoal, embora privado, com o amigo homossexual. Mas com este papa talvez haja algo mais do que uma aparente indiferença pelos seus pecados. Então, leia cautelosamente, reflita profundamente, e vá devagar com as conclusões.

Dica nº 2: Mas não seja cauteloso demais.
O mundo está em rebuliço por causo do padre polonês Krzysztof Charasma, que "saiu do armário" na véspera do Sínodo, assumindo que tem relacionamento homossexual há anos. Nós podemos ter outras surpresas. Se começarem a parecer "co-ordenados", pode ser que o Lobby Gay, que Francisco dizia não conseguir achar no Vaticano, finalmente seja desmascarado (rachado?). Entre outras coisas bizarras, pe. Charasma pinta a si mesmo como uma vítima de uma Igreja cruel, que os padres odeiam, e que "deve mudar".

[...]

Dica nº 3: Preste atenção em reivindicações por uma falsa liberdade na Igreja.
Há um falso conceito de liberdade em todas as sociedades desenvolvidas, que diz que o governo existe para nos dar o que quisermos, e, exceto em caso de crimes, qualquer coação física ou moral é um entrave ao desenvolvimento humano. É por isso que o pe. Charasma apresenta a si mesmo como uma vítima da Igreja, e o mundo secular compra essa idéia. Porque esta é a visão da pessoa humana que se tornou padrão na sociedade inteira: não mais o homem sob Deus, vivendo conforme a natureza dada por Deus, limitado pela razão, mas o homem com uma vontade autônoma - mesmo que ele seja católico - anterior e superior a tudo.

Dica nº 4: Verifique como essa falsa liberdade corrompe conceitos como amor, misericórdia, caridade.
Este deveria ter sido um dos focos sociológicos e antropológicos centrais do Instrumentum Laboris, o texto de referência que pretende guiar as discussões do Sínodo. "A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo". (E você pensou que tudo girava em torno de gays e do divórcio). Porque pessoas que acreditam que temos uma natureza dada por Deus e que apenas fazemos o bem quando respeitamos tal natureza, especialmente se isso afeta a família, inevitavelmente se confrontam com aqueles que acreditam que a natureza humana pode ser o que a pessoa quiser que seja.

Um impulso democrático distorcido surgiu, mesmo na Igreja, que considera a vontade humana, especialmente em temas sexuais, como a voz de Deus; e a revelação cristã como a voz do mal ("discurso de ódio") ou uma mera doutrina superficial, sujeita à mudança. Essa é a divisão geral por trás de muitos dos debates particulares que começarão a se desdobrar nas próximas três semanas.

Dica nº 5: Então, intensifique suas orações, jejum e atos de caridade.
Não podemos ter certeza de que ninguém, mesmo os líderes da Igreja, terão energia e força de vontade para proteger nossa cambaleante civilização de si mesma. Pode levar séculos e o surgimento de uma nova civilização inteira até que os princípios cristãos possam operar no mundo de novo. Um cristão precisa saber como viver bem no meio do mundo. Não seja passivo. Isso é morrer pela metade. E não entre em pânico. O Senhor não é um Deus do pânico e do medo.

Comprometa-se, primeiro a se tranquilizar e a esclarecer as coisas espirituais que você pode fazer sob qualquer regime, em qualquer tempo. Sem dúvida, haverá muitos momentos perturbadores nos próximos dias, mas talvez alguns momentos edificantes. Em todo caso, nunca esqueça:


1. A Sabedoria edificou sua casa, talhou sete colunas.
2. Matou seus animais, preparou seu vinho e dispôs a mesa.
3. Enviou servas, para que anunciassem nos pontos mais elevados da cidade:
4. Quem for simples apresente-se! Aos insensatos ela disse:
5. Vinde comer o meu pão e beber o vinho que preparei.
6. Deixai a insensatez e vivereis; andai direito no caminho da inteligência!
7. Quem censura um mofador, atrai sobre si a zombaria; o que repreende o ímpio, arrisca-se a uma afronta. (Pr 9, 1-7)


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