terça-feira, 6 de outubro de 2015

Sínodo - Primeiro dia: debate sobre os procedimentos

Pope Francis, shown on a big screen in the front of the synod hall, prayed with the assembled bishops on the first day of the three-week Synod of Bishops on the family in Rome Monday. (AP Photo/Alessandra Tarantino)Por John Allen Jr.

ROMA - Ao começar a decolar o Sínodo dos Bispos de 2015, duas coisas parecem claras. Uma é que muitos prelados parecem determinados a ter uma atitude positiva sempre que puderem, colocando de lado as diferenças e tentando trocar as discussões de assuntos controversos por matérias em que há um possível consenso.A outra é que tensões reais sobre assuntos como o procedimento do Sínodo podem tornar esse objetivo difícil de alcançar.

Na segunda-feira, o trabalho de verdade começou quando os discursos de abertura terminaram e a transmissão ao vivo foi encerrada, permitindo aos bispos entregarem um sumário de suas observações uns aos outros.Houve uma rodada inicial de intervenções, as quais, sob as novas regras, não puderam ultrapassar três minutos. (Um prelado comparou a brevidade imposta ao envio de um "tweet").



Mais tarde, houve uma hora de "discussão livre", embora tenha havido reclamações de que alguns participantes usaram o tempo para fazer um discurso decorado, valendo-se da possibilidade de falar por quatro minutos, em vez de três.

As fontes que descreveram as discussões da tarde para o [jornal] Crux identificaram três pontos levantados:

1. Mudança de foco
Há um esforço de muitos oradores para levar as discussões do sínodo para longe das situações conjugais e familiares que, do pondo de vista da doutrina católica, são de alguma forma irregulares - como os católicos divorciados e casados novamente, ou casais homossexuais.

Existe uma crença entre alguns participantes de que muito tempo e energia foram gastos no Sínodo de 2014 debatendo tais situações, em detrimento da consideração sobre como apoiar e encorajar famílias que atualmente tentam viver o ensinamento da Igreja.

Como parte deste esforço, muitos oradores focaram na necessidade de haver formas de preparação para o matrimônio mais abrangentes, bem como de acompanhamento e apoio para famílias após o casamento.

Essa foi a essência de alguns tweets enviados na manhã desta terça-feira pelo cardeal sul-africano Wilfrid Napier: "surpresa, surpresa! Apesar do foco da média em questões controvérsias, as principais preocupações foram o cuidado com o casamento e com a família, especialmente a preparação e o apoio, ajudando os que estão com problemas".

2. Crítica ao procedimento

Houve um certo efeito colateral devido às mudanças nos procedimentos anunciada pelo cardeal italiano Lorenzo Baldisseri, que foi escolhido pelo Papa Francisco em 2013 para organizar o Sínodo dos Bispos.

Em particular, três elementos do procedimento deixaram alguns participantes preocupados:

- Não haverá relatório intermediário. Protestos contra o documento do Sínodo de 2014 foram a primeira medida da profundidade das manifestações contra uma linha mais progressista em questões como divórcio e homossexualidade.
- Discursos no sínodo não mais serão publicados, logo a percepção pública será em grande medida pautada pelo boletim de imprensa diário disponibilizado por pessoas escolhidas pelo cardeal Baldisseri e sua equipe.
- Não haverá proposições conclusivas votadas individualmente pelos bispos, mas apenas um documento final abrangente. Isso causa preocupação pelo fato de os bispos não mais terem a oportunidade de se expressar publicamente sobre pontos específicos, e em vez disso serão forçados a aprovar um documento amplo que pode estar aberto a múltiplas interpretações.
- Na manhã de terça, Baldisseri foi compelido a levantar da cadeira para fazer uma defesa apaixonada dos procedimentos , os quais ele insiste que refletem as sugestões de mudança recebidas no fim do último sínodo.

3. Opiniões diferentes
Como afirmou o arcebispo Mark Coleridge, de Brisbane, Austrália, numa postagem em um blog , o primeiro dia também confirmou a existência de "diferentes correntes políticas" no grupo.

Como Coleridge reconheceu, isto não é um choque para quem acompanhou os preparativos do sínodo. É útil, contudo, ter a confirmação de um dos participantes do sínodo que a diferença percebida na assembléia entre aqueles comprometidos com a defesa da doutrina tradicional e aqueles abertos a reformas progressistas não é, por completo, uma invenção da mídia.

Alguns oradores, na segunda-feira, afirmou Coleridge, mostraram preocupação com o texto-base do sínodo (em latim, Instrumentum Laboris), enquanto outros contestaram a formação de um grupo de 10 bispos que supervisionarão a elaboração do documento final.

Essas são objeções ditas abertamente antes do sínodo, e tendem a ser mais perceptíveis entre os conservadores, que se opõem ao que eles vêem como uma falta de profundidade teológica no texto-base, bem como uma tendência liberal-moderada no comitê.

(Especialmente irritante para muitos desta corrente é a presença do arcebispot italiano Bruno Forte, que foi o responsável pela linguagem progressista sobre a homossexualidade e outros itens no relatório intermediário do Sínodo de 2014).

Por outro lado, Coleridge também notou que outros oradores da tarde de sábado se manifestaram contrariamente ao discurso de abertura pronunciado pelo cardeal Péter Erdõ, o "relator geral" do sínodo, cujo propósito foi delimitar os contornos do debate.

Nesse sentido, Erdõ pareceu afastar a possibilidade de qualquer mudança na questão da proibição a divorciados e recasados de receber a comunhão, o qual foi o assunto mais debatido de todos na última vez.

Como disse Coleridge, o discurso deixou a impressão de que "algumas questões chave já estão decididas e aparentemente fora de discussão", o que alguns bispos acharam "prematuro".

Durante o boletim desta terça, representantes do Vaticano disseram que muitos bispos levantaram a questão dos divorciados e recasados durante suas primeiras intervenções, expressando vários pontos de vista. Isso levou o arcebispo italiano Claudio Mara Celli a concluir: "a questão permanece aberta".

Papa Francisco está obviamente preocupado com a possibilidade de o debate sobre os divorciados e recasados ofusque todos os outros assuntos. Ele tomou a palavra na manhã de terça para abordar dois pontos:

- A doutrina católica sobre o matrimônio não esteve em questão no último sínodo e não estará neste.
- Os bispos não devem "reduzir seus horizontes" pelas próximas três semanas, como se o sínodo inteiro se tratasse apenas de um sim ou não sobre a questão da permissão para que os católicos divorciados e recasados comungar.

Durante uma coletiva de imprensa no Vaticano, na segunda-feira, Dom Forte tentou minimizar as impressões sobre um sínodo dividido.
"Eu posso dizer a vocês com grande sinceridade, ali não há divisão", afirmou. "Nós somos todos pastores tentando ouvir a voz de Deus. Sim, há diferenças, mas precisaria de algo mais para ser uma divisão".

O que resta a ser visto, uma vez que o sínodo caminha para a primeira rodada de discussões nos círculos menores, é se esse elevado objetivo de caracterizar desacordos como diferenças enriquecedoras, em vez de divisões inconciliáveis vai permanecer quando os bispos descerem para a arena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário