Por John Allen Jr.
Na primeira grande revelação do que se passa na cabeça da maioria dos bispos que participam do Sínodo dos Bispos sobre a Família, o Vaticano, nesta sexta-feira, divulgou um resumo da primeira semana de discussões nos 13 círculos menores, que se reuniram na quarta e na quinta.
Vários temas surgiram a partir desses encontros:
- Muitos bispos parecem sentir que o diagnóstico sobre a atual situação da família constante do documento de trabalho do sínodo, tecnicamente chamado Instrumentum Laboris, é excessivamente negativo. Eles pedem por um reconhecimento mais claro de que viver segundo a visão tradicional cristã da família não é difícil, ou raro, mas na verdade ocorre de forma bastante generalizada.
- Há um sentimento de que os caminhos das discussões que predominaram no sínodo é excessivamente baseado numa perspectiva européia ou norte-americana, e não foca nos desafios enfrentados no resto do mundo.
- Muitos bispos parecem querer incluir a Igreja na lista de problemas enfrentados pela família, reconhecendo o "apoio pastoral inadequado" e falhas na "formação cristã".
- Vários grupos também querem que o sínodo trate sobre alguns desafios específicos que vêem no horizonte, incluindo a "ideologia de gênero", ou seja, a idéia de que o sexo de alguém é passível de mudança, e a tendência de algumas organizações internacionais de condicionar a assistência ao desenvolvimento para nações pobres à adoção de políticas liberalizantes em matéria de ética sexual.
O desejo por um tom mais positivo, que trate a realização da doutrina católica sobre o matrimônio e a família como algo ao alcance das pessoas comuns, apareceu em vários relatórios [dos círculos menores].
O relatório final do Sínodo "deve começar [falando de] esperança em vez de fracasso, pois um grande número de pessoas já vive com sucesso o Evangelho sobre o matrimônio", disse o grupo de língua inglesa liderado pelo Cardeal Thomas Collins, de Toronto, alertando contra um sentimento de "desespero pastoral".
"Se o matrimônio é uma vocação, na qual nós acreditamos, nós não podemos promover vocações falando em primeiro lugar sobre seus problemas", disse o grupo.
"Praticamente todos os grupos disseram: 'vamos celebrar a bondade da família, os esforços de tantas pessoas para preservar a família", disse o Cardeal Luis Antonio Tagle, de Manila, nas Filipinas.
"Há um tom positivo, esperançoso, celebrativo", disse.
Um grupo italiano liderado pelo Caredal Angelo Bagnasco, de Gênova, presidente da poderosa Conferência dos bispos italianos (CEI), levantou a preocupação com uma excessiva perspectiva ocidental.
O documento de trabalho, afirmou o grupo, é "fortemente condicionado por uma visão ocidental (européia e norte-americana)", "sobretudo na sua descrição dos desafios abertos pela secularização e individualismo que caracteriza as sociedades de consumo".
O grupo espanhol, liderado pelo Cardeal Oscar Rodriguez Maradiaga, o coordenador do Conselho de Cardeais do Papa Francisco, sublinhou a necessidade de a Igreja reconhecer seu próprio papel nas lutas da família".
"É verdade que fatores externos nos afetam e são fortes, mas como a Igreja tem respondido?", questionou o grupo.
"Nós falhamos na 'formação cristã' e na educação na fé, então [as pessoas] chegam ao casamento com muitas lacunas [na sua formação]", afirmou o grupo.
Um dos grupos que levantou a questão da pressão internacional sobre nações em desenvolvimento para que elas abandonem os valores tradicionais da família foi o italiano liderado pelo Cardeal Edoardo Menechelli, de Ancona, nomeado pelo Papa Francisco.
"Esperamos por uma mudança na prática das organizações internacionais que vinculam sua assistência ao desenvolvimento dos países mais pobres a políticas demográficas", disse.
O Sínodo de 2015 ouviu os relatórios dos círculos menores nesta sexta e vai realizar outra sessão geral no sábado. Ao final, os 270 bispos reunidos em Roma apresentarão suas recomendações ao Papa Francisco, que vai dar a última palavra sobre o que fazer.
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