Por Austen Ivereigh.
O segundo dia do sínodo respirou mais livremente depois que os padres sinodais deixaram claro para os jornalistas que o longo discurso do relator, cardeal Péter Erdõ, não encerrou a discussão da questão dos sacramentos para os divorciados e recasados.
Mas o Papa Francisco, numa intervenção inesperada, deixou claro que o Sínodo não tratava apenas sobre este tema, mas sobre muitos outros, e todos devem ser levados em conta.
Ele também deixou claro que "a doutrina católica sobre o matrimônio não estava em questão na sessão anterior do Sínodo", de acordo com o porta-voz do Vaticano, pe. Frederico Lombardi, que disse que o Papa também quis esclarecer que há somente três documentos oficiais provenientes do sínodo de outubro passado: seus discursos de abertura e encerramento, e o relatório final, ou "relatio synodi", que fundamenta este sínodo.
O Papa disse também que o trabalho dos círculos menores, que começou nesta tarde, era crucial para o andamento do sínodo. Às suas observações seguiu-se uma hora de debate sobre a nova metodologia do sínodo, tal como a não elaboração de um relatório intermediário, a decisão de não divulgar os discursos do sínodo (embora os oradores sejam livres para fazê-lo) e encerrar o sínodo com um documento final abrangente, em vez de proposições.
As perguntas sobre a metodologia levaram a uma longa e apaixonada defesa das mudanças pelo secretário-geral do Sínodo, cardeal Baldisseri.
Entre as questões levantadas pelos padres sinodais nos discursos de três minutos - o tempo limite foi imposto para estimular a concisão e dar mais tempo para os trabalhos de grupo - estavam imigração, poligamia, violência doméstica e guerra.
Mais de uma intervenção pediu que a linguagem usada pela Igreja sobre os homossexuais e divorciados seja mais misericordiosa. Ao menos dez discursos falaram sobre o desenvolvimento de um "catecumenato" do matrimônio, que permitiria uma profunda formação ao longo do tempo.
Em sua fala, o bispo belga Joahn Bonny pediu que às conferências dos bispos sejam dados mais espaço e liberdade para determinar estratégias pastorais para situações locais, em vez de tentar formular uma política única para todos.
O arcebispo Paul-Andre Durocher, de Quebec, disse que o sínodo deveria refletir sobre a possibilidade de permitir que mulheres sejam ordenadas diaconisas, abrindo mais oportunidades para as mulheres na vida da Igreja. Onde fosse possível, disse ele, a mulheres qualificadas deveriam ser dadas posições de autoridade nas estruturas da Igreja e novos oportunidades de ministério.
Perguntado na coletiva de imprensa se a questão da admissão de divorciados e recasados católicos à Eucaristia permanecia em aberto, o arcebispo Claudio Maria Celli, presidente do Pontifício Conselho para a Comunicação Social, confirmou que sim. "Está em aberto em um nível pastoral, mas lembre o que o Papa disse sobre a doutrina", afirmou.
Questionado se a recepção da Eucaristia por pessoas divorciadas e recasadas era um problema de "doutrina ou de disciplina", o arcebispo Durocher afirmou que os padres sinodais não chegaram a um consenso quanto a isso, e que este era um dos temas que o sínodo precisa esclarecer.
Em outras palavras, enquanto está claro que a mudança na doutrina da Igreja sobre o matrimônio está fora de questão, o que constitui esta mudança não é tão claro.
Em entrevistas aos jornais The Tablet e Crux, os dois delegados da Igreja da Inglaterra e País de Gales, cardeal Vincent Nichols e bispo Peter Doyle, assumiram uma posição moderada, buscando unir a fidelidade à doutrina ao que cardeal Nichols chamou "um novo repertório de bom acompanhamento pastoral".
Os debates do sínodo continuarão amanhã, em treze grupos de línguas diferentes.
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